sexta-feira, 20 de novembro de 2009

OS DESAFIOS DO ENSINO DE FILOSOFIA NA CONTEMPORANEIDADE


A lei que obriga o ensino de filosofia no ensino médio nos impulsiona a tentar responder certas questões, tais como o porque da presença da filosofia nos currículos, como deve ser a filosofia nesse nível da educação, qual o modelo mais adequado para o ensino dessa disciplina, qual o papel da filosofia na educação na atualidade, e como o professor deve trabalhar.
O ensino médio objetiva uma formação abrangente do aluno, apesar de optar Por essa abrangência ela acaba se resumindo em um ensino conteudista da ciência e despreza as potências da arte e da filosofia. Afirma Gallo (2007 p 21):
Penso que esta seja uma justificativa pertinente para a presença da filosofia nos currículos da educação média: a busca de um equilíbrio entre as potências da arte, da ciência, da filosofia, de modo que os jovens possam ter acesso a essas várias possibilidades de exercício do pensamento criativo, aprendendo a pensar por funções (ciência), mas também por perceptos e afectos (arte) e por conceitos (filosofia).
Pode-se ainda justificar a presença da filosofia no ensino médio pelo fato dela ser de interesse geral e também essencialmente política. A filosofia adota como objeto de estudo os problemas que afetam a existência de todos os homens, os fatores que ameaçam a vida coletiva. Martins observa (2000 p 106):
Se é no ensino médio que se pretende dar ao educando a formação capaz de desenvolver todas as suas potencialidades, tornando-o apto para enfrentar os desafios que a vida lhe impõe, a filosofia deve ter espaço garantido na grade curricular. Caso contrario a mentalidade desse educando estará limitada pelo imediatismo e particularidade cientificas, tornando-o um ser facilmente manipulável porque carente da visão das relações que se travam na totalidade histórico-social.
A filosofia é uma prática revolucionaria e isso ficou evidente por sua exclusão por parte dos militares, ela precisa de democracia para existir, ela é uma ferramenta crítica , transformadora, ligada a vivência da democracia.
A filosofia que deve ser proposta no ensino médio deve antes de tudo estar atenta sobre as condições sociais e educacionais dos alunos, suas deficiências educativas, etc; os professores devem pensar novas formas de mediações entre a realidade cultural dos alunos e o saber escolar. A filosofia ensinada na educação média deve fugir do mero conteudismo, não se deve resumir o ensino de filosofia a transmissão de conteúdos historicamente produzidos e deve fugir também de tornar o ensino de filosofia um meio de produzir competências e habilidades.
Ao ensinar filosofia tomando como objetivo central o desenvolvimento de certas competências e habilidades especificas, como de leitura de textos..., corremos o risco de “desfilosofizar” (com o perdão do neologismo) a aula de filosofia pela perda do conteúdo especifico. Por outro lado ao ensinar filosofia tomando como objetivo apenas a historia da filosofia, corremos o mesmo risco, mas agora por, centrados no conteúdo perdemos o desenvolvimento da “consciência” filosófica pela pratica do pensamento. GALLO (2007 P 17).
Existem muitas formas que moldam a prática dos professores de filosofia no ensino médio no Brasil. Para Gallo (2007) “... a filosofia como uma atividade de criação de conceitos adquiri um caráter prático, investigativo, dinâmico, sem, no entanto cair no senso comum e no “opinionismo” , sem perder a dimensão estritamente filosófica do conceito.” Uma aula a partir desse paradigma divide-se nas seguintes etapas: sensibilização, onde apresenta-se o tema, que pode ser demonstrada a partir de uma música, um filme etc; segunda etapa é a problematização, ou seja, tornar esse tema um problema e os alunos junto com o professor vão atrás da solução, aqui se estimula o sentido crítico; próxima etapa é a investigação, é a busca de responder o problema proposto anteriormente, nessa etapa podemos recorrer para a historia da filosofia; a ultima etapa é a conceituação, nessa etapa a proposta é recriar os conceitos encontrados. Um problema filosófico pode ser introduzido entre os estudantes nessas quatro etapas, através da experiência do pensamento. Sobretudo a filosofia deve ser oferecida no ensino médio como um saber vinculado à realidade, não como uma mera abstração teórica impossível de ser posta em prática.
A filosofia e a educação estão entrelaçadas, a filosofia orienta e fundamenta a educação. “Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento do jovem..., a filosofia é a reflexão sobre o que é e como deve ser ou desenvolver este jovem e esta sociedade”. LUCKESI (19994 p 32). Penso ser este o papel da filosofia na atualidade: contribuir para que se mantenha sempre aberto e presente a pergunta pelo sentido de como vivemos e do que fazemos, por que temos a sociedade que temos? “O sentido da filosofia é abrir nosso pensamento a essas interrogações e a nova forma de compreender essas perguntas, colocando a demissão do sentido em nossa experiência do mundo”. GALLO, KOHAN (2000 p 189). É importante que os jovens entrem em contato com a filosofia e assim possam desenvolver a pratica de pensar criticamente.
Quanto à postura do professor como concebê-la? “Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a pratica. É pensando criticamente a prática de hoje e de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. FREIRE (1996 p 42). Penso que desse modo freiriano podemos resolver essa questão, ou seja, o professor deve refletir sobre os métodos que ele esta utilizando, se realmente são eficazes. O professor deve ser mediador entre os conhecimentos filosóficos e os alunos, tendo em vista as dificuldades destes.
A filosofia enfrentaria uma nova realidade estabelecida por causa da ampliação quantitativa do ensino médio. Com a enorme deficiência educativa dos novos discentes, eles sentiriam maior dificuldade em compreender a filosofia, aumentando assim a importância o professor, que deve produzir mediações pedagógicas capazes de reduzir essa distancia. Tal mediação se processará por meio do discurso didático, que é uma reformulação do discurso filosófico, e também por meio de síntese, esquematização, e simplificação de conteúdos e de linguagem, a tarefa do professor é ser o intermediário entre a filosofia e o aluno, o professor promove a transição para a construção da capacidade do aluno de pensar por conta própria, ensino voltado para a autonomia intelectual. RODRIGO (2007 p 42).
No ensino médio seria provavelmente a única oportunidade dos alunos de estudarem filosofia, não apenas ela, mas também os outros tipos de potência. O ensino de filosofia é um exercício de acesso a questões fundamentais para a existência humana, importa mais o processo criativo, a experimentação, a reflexão do que a solução do problema.


Referências bibliográficas:
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: paz e terra. 1996.
GALLO, S, KOHAN,W.O. Filosofia no ensino médio. 3 ed. Petrópolis: vozes, 2000.
LUCKESI, C.C. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1994.
SILVEIRA, R, J,T; GOTO, R. Filosofia no ensino médio: temas, problemas e propostas. São Paulo: Loyola, 2007.

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