segunda-feira, 19 de abril de 2010

Conceito de Iluminismo em Adorno e Horkheimer


Adorno e Horkheimer no texto conceito de iluminismo apresentam a contradição desse pensamento, que pretendia libertar os homens dos mitos, mas causou o inverso, os aprisionou em novos mitos. Este é o objeto dessa resenha, apresentar os argumentos desses autores, mostrando como ocorreu esse nova forma de dominação.
O Iluminismo, como um pensar que faz progresso, teve como objetivo livrar os homens do medo e de fazer deles senhores, livrar o mundo do feitiço, dissolver os mitos e anular a imaginação, pretendia fazer tudo isso através do saber.
Adorno e Horkheimer iniciam citando Bacon, “o pai da filosofia experimental”, ele critica a tradição Escolástica dos que tem aversão a dúvida, o receio de contradizer, pois diz que essas e outras causas semelhantes impediram que o entendimento humano fizesse um casamento feliz com a natureza das coisas. Adorno e Horkheimer compreenderam que Bacon captou muito bem a ciência que se seguiu a ele, o entendimento que venceu a superstição deve ter voz de comando sobre a natureza desenfeitiçada, pois o saber que é poder não conhece limites e a técnica é a essência desse saber.
No entanto o iluminismo tornou-se mito, pois em vez de libertar os homens ela os aprisionou. A demonstração dessa substituição se faz evidente no texto nas seguintes passagens:
As categorias, nas quais a filosofia ocidental determinara sua eterna ordem da natureza, marcavam os lugares, antigamente ocupados por Ocnnos e Perséfone, Ariádine e Nereu. (...) pelas idéias platônicas, o logos filosófico finalmente também toma conta dos deuses patriarcais do Olimpo. ADORNO E HORKHEIMER (1985, p 20)

Por conseqüência do iluminismo a razão se instrumentaliza e o que não se ajusta às medidas da calculabilidade e da utilidade é suspeito para ele. Foi a lógica formal a grande escola de uniformização, que ofereceu aos iluministas o esquema da calculabilidade. O pensar se coisifica no processo automático, o homem compete com a máquina que ele próprio produz para que esta possa finalmente substituí-lo.
O iluminismo deixou de lado a experiência clássica de pensar o pensamento, a reflexão, a razão se torna uma ferramenta, um mero instrumento auxiliar do aparato econômico.
Para o positivismo, que ocupou o posto e juiz da razão esclarecida, uma digressão pelos mundos inteligíveis não é mais apenas proibida, mas é vista como uma tagarelisse sem sentido. O positivismo - para a sua felicidade - não precisa ser ateísta, pois o pensamento reificado não pode nem mesmo pôr a questão. ADORNO E HORKHEIMER (1985, p 43).
As massas não conseguem perceber a situação em que se encontram, pois apresentam “incapacidade de ouvir o que nunca foi ouvido, de paupar com as próprias mãos o que nunca foi tocado”, é uma nova forma de dominação que supera qualquer forma de dominação mítica vencida. Com a propagação da economia mercantil burguesa, o mito é superado pela razão calculadora iluminista e daí se tem como conseqüência uma nova barbárie.
No texto é feita uma analogia entre os remadores do mito de Ulisses e os trabalhadores da fábrica moderna, “os remadores que não podem falar entre si são atrelados, todos eles, ao mesmo ritmo, tal como o trabalhador moderno, na fábrica, no cinema e na sua comunidade de trabalho.” São as condições concretas de trabalho na sociedade que impõem o conformismo.
No caminho que vai da mitologia a logística, o pensar perdeu o elemento da reflexão sobre si e hoje a maquinaria mutila os homens mesmo quando os alimenta. O iluminismo se perdeu no seu momento positivista.
O iluminismo ao mesmo tempo em que pretendia livrar os homens da dominação dos mitos para fazer deles senhores e livrar o mundo do feitiço, acabou por lhes aprisionar, pois no iluminismo a razão se instrumentaliza, o pensar se coisifica, o homem deixou de lado a experiência clássica de pensar o pensamento, a reflexão, a razão se torna uma ferramenta, um mero instrumento auxiliar do aparato econômico.

domingo, 18 de abril de 2010

Nietzsche e a idade pós-metafísica



O fim da modernidade: niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna, de Vattimo, (introdução), A Gaia Ciência, de Nietzsche, (aforismo 125), e O Crepúsculo dos Ídolos, do mesmo autor, (na parte: como o verdadeiro mundo acabou por se tornar fábula), foram textos lidos para a produção da presente resenha. A partir de tal leitura pretendo demonstrar como Nietzsche de distancia da modernidade e se aproxima da idade pós-metafísica.
Nietzsche é uma das principais referências quando se discute o fim da modernidade, esta se caracteriza pela fundamentação última que se origina pelo pensamento e por meio deste se tem acesso a ela, e também pela constante superação, em um movimento progressivo. De forma mais ampla Vattimo apresenta a modernidade:
(…) a modernidade pode caracterizar-se, de fato, por ser dominada pela idéia da história do pensamento como uma “iluminação” progressiva, que se desenvolve com base na apropriação e na reapropriação cada vez mais plena dos “fundamentos”, que freqüentemente são pensados também como as “origens”, de modo que as revoluções teóricas e práticas da história ocidental se apresentam e se legitimam na maioria das vezes como “recuperações”, renascimentos, retornos. A noção de “superação” que tanta importância tem em toda filosofia moderna, concebe o curso do pensamento como um desenvolvimento progressivo, em que o novo se identifica com o valor através da mediação da recuperação e da apropriação do fundamento-origem. (1996, P. 6)
Nietzsche se distancia dessa lógica moderna de fundamentação, pois para ele esse mundo, mundo verdadeiro, posto pela tradição metafísica não é mais útil para nada é “uma idéia que se tornou supérflua, prescindível; por conseguinte, uma idéia refutada: toca a eliminá-la!” NIETZSCHE (p. 36).
Da mesma forma que ele afirma que o verdadeiro mundo se tornou fábula, ele anuncia a morte de Deus, que representa o rompimento com a lógica moderna de fundamentação, sendo assim propõem que nós mesmos nos tornemos deuses, ou seja, que se considere as condições ou situações particulares, que acontece no historicizar-se. Este pensamento caracteriza a filosofia pós-moderna, nas palavras de Vattimo: “(...) um dos conteúdos característicos da filosofia, de grande parte da filosofia do século XIX e XX, que representa a nossa herança mais próxima, é precisamente a negação de estruturas estáveis do ser, a que o pensamento deveria recorrer para “fundar-se” em certezas não precárias.” (1996, P. 7)
O filósofo alemão rompe com a modernidade quando critica a necessidade de uma fundamentação última que explique toda a totalidade, no entanto recusa-se a propor sua superação crítica, pois isso significaria continuar prisioneiro da lógica de desenvolvimento da modernidade.