sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Metafísica Aristotélica





A partir da definição que Aristóteles deu à metafísica, (como ciência que indaga: a) as causas e os princípios primeiros ou supremos; b) o ser enquanto ser; c) a substância; d) a substância supra-sensível) desenvolveremos esse estudo. Iniciando com uma breve explanação sobre a vide de Aristóteles, seus estudos na Academia, quando discípulo de Platão, e a fundação do Liceu; seguindo com a divisão das ciências, Teoréticas, Práticas, Poiética; discutindo também a origem do termo metafísica, que não é um termo aristotélico; concluindo com uma rápida comparação entre a metafísica de Aristóteles, Platão e Parmênides.
Aristóteles nasceu em 384/383 a.C. em Estagira, filho de pai médico, que servia ao rei da Macedônia, daí podemos concluir que Aristóteles na sua juventude freqüentou a corte. Depois da morte dos pais ele viajou para Atenas e logo entrou na academia platônica.
É certo que, durante os vinte anos passados na Academia, que são os anos decisivos na vida de um homem, Aristóteles assimilou os princípios platônicos em sua substância, defendendo-os em alguns escritos e, ao mesmo tempo, submetendo-os a prementes críticas, tentando encaminhá-los para uma novas direções. ANTISERI, D; REALE, G (1990, p 173).
Com a morte de Platão, Aristóteles deixa a Academia, por que a direção da escola havia sido tomada por uma corrente distante das suas convicções. Mas, em 335/334 a. C. Aristóteles volta para Atenas e funda uma escola, o Liceu. Ele ministrava seus ensinamentos passeando pelo jardim, por isso a escola também ficou conhecida como perípatos, que quer dizer passeio, e seus seguidores denominados peripatéticos.
Assim, o perípatos se contrapôs a Academia, inclusive eclipsando-a inteiramente por um certo período de tempo. Foram esses os anos mais fecundos na produção de Aristóteles, o período que viu o acabamento e a grande sistematização dos tratados filosóficos e científicos que chegaram até nós. ANTISERI, D; REALE, G (1990, p 175).
Aristóteles dividiu as ciências em três ramos: ciências Teoréticas, que são as ciências que buscam o saber em si mesmo; ciências Práticas, são as ciências que buscam o saber, para através dele alcançar a perfeição moral; ciências Poiéticas, que são as ciências que buscam o saber em função do fazer.
As mais elevadas são as primeiras, Teoréticas e Práticas, constituídas respectivamente pela metafísica e a física. Nesse trabalho pretendo aprofundar a exposição nas ciências Teoréticas, na metafísica aristotélica.
O termo metafísica, que quer dizer o que está além da física, não é um termo aristotélico, surgiu durante a organização das obras de Aristóteles realizada por Andrônico de Rodes no século I a.C., Aristóteles usava a expressão “Filosofia Primeira” ou ainda “Teologia”. A “Filosofia Primeira” é a Ciência que se ocupa das realidades que estão acima das realidades físicas, ou seja, toda tentativa do pensamento humano no sentido de ultrapassar o mundo empírico para alcançar uma realidade meta - empírica passou a ser denominado metafísica.
São nada menos do que quatro as definições que Aristóteles deu a metafísica: a) a metafísica “indaga as causas e os princípios primeiros ou supremos”; b) a metafísica “indaga o ser enquanto ser”; c) a metafísica “indaga a substância”; d) a metafísica “indaga a substância supra-sensível”. ANTISERI, D; REALE, G (1990, p 179).
Aristóteles busca as causas primeiras, ele afirma que essas causas são finitas quanto ao número, e no que se refere ao mundo do devir, estabelece as seguintes quatro causas: formal, material, eficiente e final.
As causas formal e material se referem respectivamente, a forma ou essência, e a matéria, que constituem todas as coisas. Elas são suficientes para se explicar a realidade se a considerarmos estaticamente, mas se a considerarmos dinamicamente, no seu devir, então apenas estas causas não bastão mais. Podemos pegar como exemplo um dado homem estático, ele se reduz à matéria (carne e osso) e forma (alma), mas se o considerarmos dinamicamente,(nascimento, desenvolvimento) então são necessárias duas outras causas, a causa eficiente, que o gerou, e a causa final, o fim ou o objetivo do qual tende o devir do homem.
Como já foi dito anteriormente, Aristóteles afirma que a metafísica é a ciência que considera o ser enquanto ser e as propriedades que lhe cabem enquanto tal. Ela não se identifica com nenhuma das ciências particulares, pois elas não consideram o ser enquanto ser universal, mas sim, depois de delimitar uma parte dela, cada uma estuda uma característica dessa parte.
O ser não tem apenas um, mas múltiplos significados, Aristóteles reúne todos os significados possíveis do ser, distinguindo quatro grupos fundamentais: 1) o ser como categoria, o ser em si; 2) o ser como ato e potência; 3) o ser como acidente; 4) o ser como verdadeiro.
As categorias representam as divisões do ser, são elas: substância ou essência; qualidade; quantidade; relação; ação ou agir; paixão ou sofrer; onde ou lugar; quando ou tempo; ter; jazer. Somente a primeira categoria tem uma subsistência autônoma, enquanto todas as outras pressupõem a primeira.
O segundo grupo de significado, o do ato e potência, é muito importante, só podem ser definidos apenas em relação mútua. Podemos tomar como exemplo uma plantinha de trigo, que “é” trigo “em potência”, ao passo que a espiga madura “é” trigo em ato. Essa distinção desempenha um papel essencial no sistema aristotélico. A potência e o ato se dão em todas as categorias.
O próximo significado a ser explicitado é o ser acidental que é o ser causal, aquilo que “acontece de ser”. Trata-se de um modo de ser que não apenas depende de outro ser como também não está ligado a ele por nenhum vínculo essencial.
Há também o ser como verdadeiro, esse tipo de ser é estudado na lógica. É aquele tipo de ser próprio da mente humana que pensa as coisas e sabe conjugá-las como elas estão conjugadas na realidade ou separá-las quando elas estão separadas. O ser como falso é quando a mente conjuga aquilo que não está conjugada ou separa aquilo que não está separado na realidade.
Aristóteles também define a metafísica simplesmente como “teoria da substância”, pelo fato de ser a substância o eixo em torno do qual giram todos os significados do ser. A substância é constituída pelas realidades sensíveis; pela forma, enquanto princípio que determina, concretiza realidade à matéria; e é constituída também pelo que Aristóteles vem chamar de “Sinolo”, conjunto de matéria e forma, reúne tanto a “substancialidade” do princípio material quanto a do formal.
O que é então a substancia geral? 1) os naturalistas apontam os elementos materiais como o princípio substancial. 2) os platônicos indicavam a forma. 3) para os homens comuns, no entanto, a substancia parecia ser o individuo e a coisa concreta, feitos a um só tempo de matéria e forma. Quem tem razão? Segundo Aristóteles, ao mesmo tempo, todos e nenhum têm razão, no sentido de que, tomadas singularmente, essas respostas são parciais, ou seja unilaterais, mas, em seu conjunto, nos dão a verdade. ANTISERI, D; REALE, G (1990, p 184).

Por ultimo é importante examinarmos a seguinte afirmação aristotélica: “a metafísica indaga a substância supra- sensível”.
As substâncias são as realidades primeiras, pois todos os outros modos dependem dela. Se as substâncias fossem corruptíveis, tudo que existisse seria também corruptível. Mas para Aristóteles o tempo e o movimento são incorruptíveis.
O tempo não foi gerado nem se corromperá: com efeito antes da geração do tempo, deveria ter havido um “antes” e, depois da destruição do tempo, deveria haver um “depois”. Ora “antes” e “depois” outra coisa não são do que tempo. Em outras palavras o tempo é eterno. O mesmo raciocínio vale também para o movimento, porque, segundo Aristóteles, o tempo outra coisa não é do que uma determinação do movimento. Sendo assim, a eternidade do primeiro postula também a eternidade do segundo. ANTISERI, D; REALE, G (1990, p 186).

Com base nos seus estudos das condições do movimento na física, ele conclui que a condição de subsistir um movimento e um tempo eterno só se dá a partir de um principio primeiro que seja causa deles. Esse princípio deve ser: eterno, pois se o movimento é eterno eterna também deve ser sua causa; o principio deve ser imóvel, pois só o imóvel é causa absoluta do móvel; em terceiro lugar o principio deve ser imaterial, privado de potencialidade, isto é ato puro.
Essa substância supra- sensível que move permanecendo absolutamente imóvel é o “Primeiro Motor”.
No âmbito das coisas que nós conhecemos existirá algo que saiba mover sem mover-se ele próprio? Aristóteles responde apresentando como exemplos coisas como “o objeto do desejo e da inteligência” . O objeto do desejo é aquilo que é belo e bom: o belo e o bom atraem a vontade do homem sem moverem-se de modo algum; da mesma forma, o inteligível move a inteligência sem mover-se. Analogamente o Primeiro Motor “move do mesmo modo como o objeto de amor atrai o amante” e, como tal, permanece absolutamente imóvel. Evidentemente, a causalidade do Primeiro Motor não é uma causalidade do tipo “eficiente”( do tipo exercido por uma mão que move um corpo, pelo escultor que modela o mármore ou pelo pai que gera o filho), sendo, mais propriamente, uma causalidade de tipo “final”( Deus atrai e, portanto, move, com, como “perfeição”). ANTISERI, D; REALE, G (1990, p 186).

Diferentemente de seus dois predecessores, Parmênides e Platão, Aristóteles não julga o mundo das coisas sensíveis, ou a Natureza, um mundo aparente e ilusório. Pelo contrário, é um mundo real e verdadeiro cuja essência é, justamente, a multiplicidade de seres e a mudança incessante. Em lugar de afastar a multiplicidade e o devir como ilusões ou sombras do verdadeiro Ser, Aristóteles afirma que o ser da Natureza existe, é real, que seu modo próprio de existir é a mudança e que esta não é uma contradição impensável. É possível uma ciência teorética verdadeira sobre a Natureza e a mudança: a física.
Partindo da sensação até alcançar a intelecção. A essência de um ser ou de uma ação é conhecida pelo pensamento, que capta as propriedades internas desse ser ou dessa ação, sem as quais ele ou ela não seriam o que são. A metafísica não precisa abandonar este mundo, mas, ao contrário, é o conhecimento da essência do que existe em nosso mundo. O que distingue a ontologia ou metafísica dos outros saberes (isto é, das ciências e das técnicas) é o fato de que nela as verdades primeiras ou os princípios universais e toda e qualquer realidade são conhecidos direta ou indiretamente pelo pensamento ou por intuição intelectual, sem passar pela sensação, pela imaginação e pela memória. CHAUÍ, Marilena, (1994)

Aristóteles considera que a essência verdadeira das coisas naturais e dos seres humanos e de suas ações não está no mundo inteligível, separado do mundo sensível, onde as coisas físicas ou naturais existem e onde vivemos. As essências, diz Aristóteles, estão nas próprias coisas, nos próprios homens, nas próprias ações e é tarefa da Filosofia conhecê-las ali mesmo onde existem e acontecem.

Referência Bibliográfica
ANTISERI, D; REALE, G. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulus: Paulus, 1990.
ARISTÓTELES, In: Metafísica. REALE, Giovanni (org). Tradução: Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática,1994.
LARA, Thiago Adão. A Filosofia nas suas Origens Gregas. Petrópolis: Vozes, 1989

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