sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Estética como Ciência, segundo Baumgarten, na obra ESTÉTICA: Lógica da Arte e do Poema


Entre o final do século XVII e a primeira metade do século XVIII, a principal influência sobre a filosofia do iluminismo proveio das concepções mecanicistas da natureza que haviam surgido na seqüência da chamada revolução científica do século XVII. Neste contexto, o mais influente dos cientistas e filósofos da natureza foi então o físico inglês Isaac Newton. Em geral, pode-se afirmar que a primeira fase do Iluminismo foi marcada por tentativas de importação do modelo de estudo dos fenômenos físicos para a compreensão dos fenômenos humanos e culturais.
É possível apontar duas correntes filosóficas, em especial, como as principais influências que contribuíram para formar a mentalidade iluminista: o empirismo inglês e o racionalismo do século XVII.
Baumgarten é um dos principais representantes do Iluminismo, é um filosofo alemão do século XVIII , foi o primeiro a usar o termo estética e também a ministrar o curso de estética. Ele segue a mesma linha de Descartes, pois para ele a alma é o que nos permite ter consciência da nossa existência, ou seja, para ele a razão é o que nos permite existir. Divide a razão em duas faculdades, a faculdade superior e a faculdade inferior, a estética só é possível por causa dessa faculdade inferior. Ele afirma que a partir da nossa posição podemos perceber de modo claro ou obscuro as marcas distintivas.
A sensibilidade mais desenvolvida é chamada de aguda, a sensibilidade menos desenvolvida é chamada embotada.
Baumgarten afirma que a Estética é uma Ciência. O fim visado pela Estética é a PERFEIÇÃO DO CONHECIMENTO SENSITIVO. À natureza do esteta deve pertencer: um refinado e elegante talento inato, cujas faculdades inferiores sejam mais facilmente excitadas em função da elegância do conhecimento. O exercício deve permitir a gradual aquisição do hábito de pensar com beleza.
A área escolhida para o desenvolvimento desse projeto de pesquisa é a Estética, do grego aisthésis, percepção, sensação, é um ramo da filosofia que tem por objeto o estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Ela estuda o julgamento e a percepção do que é considerado belo, a produção das emoções pelos fenômenos estéticos, bem como as diferentes formas de arte e do trabalho artístico; a idéia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e formas nas artes. Por outro lado, a estética também pode ocupar-se da privação da beleza, ou seja, o que pode ser considerado feio.
Platão entendeu que os objetos incorporavam uma proporção, harmonia e união, buscou entender estes critérios. O belo para Platão estava no plano do ideal, mais propriamente a idéia do belo em si, era colocada por ele como absoluto e eterno, não dependeria dos objetos, ou seja, da materialidade, era a própria idéia de perfeição, estava plenamente completo, restando ao mundo sensível apenas a imitação ou a cópia desta beleza perfeita. Platão dissociava o belo do mundo sensível, sua existência ficava confinada ao mundo das idéias, associando-se ao bem, a verdade, ao imutável e a perfeição. Para Platão somente a partir do ideal de beleza suprema é que seria possível emitir um juízo estético, portanto definir o que era ou não belo, ou o que conteria maior ou menor beleza. Por estar fora do mundo sensível o belo platônico está separado também da intromissão do julgamento humano.
Desejamos explicar pr que certa coisa é bela? Ora, para explicar esse porquê o naturalista invocaria elementos puramente físicos, como a cor, a figura e outros elementos desse tipo. Entretanto – Diz Platão – não são essas as “verdadeiras causas”, mas ao contrario, apenas meios ou “con-causas”. Impõe-se, portanto, postular a existência de uma causa ulterior, que para constituir verdadeira causa, deverá ser algo não sensível, mas inteligível. Essa causa é a idéia ou forma pura do belo em si, a qual a partir de sua participação ou presença faz com que as coisas empíricas sejam belas, isto é se realize segundo determinada forma, cor e proporção como convém e precisamente com devem ser para que possa ser bela. PLATÃO (2007, P190).
O belo em Platão serviria para conduzir o homem à perfeição, ao qual restaria a cópia fiel e a simulação, estas concepções filosóficas vão permear a arte grega e ocidental por um longo período, até o século XVIII, com momentos históricos de maior ou menor ênfase no fazer artístico.
Aristóteles, discípulo de Platão, ao contrário de seu mestre, concebeu o belo a partir da realidade sensível, deixando este de ser algo abstrato para se tornar concreto, o belo materializa-se, a beleza no pensamento aristotélico já não era imutável, nem eterna, podendo evoluir. Aristóteles dará o primeiro passo para a ruptura do belo associado à idéia de perfeição, trará o belo para a esfera mundana, colocará a criação artística sob a égide humana, já não mais separada do homem, mas intrínseco a ele. Com Aristóteles abrem-se às perspectivas dos critérios de julgamento do fazer artístico, conferindo ao artista a possibilidade de individuação. O belo aristotélico seguirá critérios de simetria, composição, ordenação, proposição, equilíbrio.
Kant, ainda no século XVIII, tentan-do resolver esse impasse entre objetividade e subjetividade, afirma que o belo é "aquilo que agrada universalmente, ainda que não se possa justificá-lo intelectualmente". Para de, o objeto belo é uma ocasião de prazer, cuja causa reside no sujeito. O princípio do juízo estético, portanto, é o sentimento do sujeito e não o conceito do objeto. Apesar de esse juízo ser subjetivo, ele não se reduz à individualidade de um único sujeito, uma vez que todos os homens têm as mesmas condições subjetivas da faculdade de julgar. É algo que pertence à condição humana, isto é, porque sou humano, tenho as mesmas condições subjetivas de fazer um juízo estético que meu vizinho ou o crítico de arte. O que o crítico de arte tem a mais é o seu conhecimento de história e a sensibilidade educada. Assim, o belo é uma qualidade que atribuímos aos objetos para exprimir um certo estado da nossa subjetividade, não havendo, portanto, uma idéia de belo nem regras para produzi-lo. Existem objetos belos que se tornam modelos exemplares e inimitáveis.
Hegel, no século seguinte, introduz o conceito de história. A beleza muda de face e de aspecto através dos tempos. E essa mudança (chamada devir), que se reflete na arte, depende mais da cultura e da visão de mundo presentes em determinada época do que de uma exigência interna do belo.
Hoje em dia, numa visão fenomeno-lógica, consideramos o belo como uma qualidade de certos objetos singulares que nos são dados à percepção. Beleza é, também, a imanência total de um sentido ao sensível, ou seja, a existência de um sentido absolutamente inseparável do sensível. O objeto é belo porque realiza o seu destino, é autêntico, é verdadeiramente segundo o seu modo de ser, isto é, é um objeto singular, sensível, que carrega um significado que só pode ser percebido na experiência estética. Não existe mais a idéia de um único valor estético a partir do qual julgamos todas as obras. Cada objeto singular estabelece seu próprio tipo de beleza.
Através de uma dissertação expositiva pretendo demonstrar fielmente, o que possibilita a Estética ser uma Ciência, segundo Baumgarten na obra ESTÉTICA: Lógica da Arte e do Poema .
Compreender melhor como ocorre a relação entre o conhecimento sensível, onde a experiência é a base do conhecimento, ou seja, adquire-se a sabedoria através da percepção do mundo externo e o conhecimento racional, que é quando a obtenção de conhecimento se dá pelas idéias inatas, que seriam pensamentos existentes no homem desde sua origem que o tornariam capazes de intuir as demais coisas do mundo, segundo o filosofo alemão Baumgarten.
O belo e têm sido objeto de estudo ao longo de toda a história da filosofia. A estética enquanto disciplina filosófica surgiu na antiga Grécia, como uma reflexão sobre as manifestações do belo natural e o belo artístico. O aparecimento desta reflexão sistemática é inseparável da vida cultural das cidades gregas, onde era atribuída uma enorme importância aos espaços públicos, ao livre debate de idéias e aos poetas, arquitetos, dramaturgos e escultores era conferido um grande reconhecimento social.
Alma
Baumgarten divide a razão em duas faculdades, a faculdade superior, que nos permite tratar de temas metafísicos, e a faculdade inferior, que embora seja uma instancia racional é auxiliada pelos sentidos, ela é responsável pela produção da ciência, incluindo a estética, que só é possível por causa dessa faculdade inferior, pois a estética é a ciência do conhecimento sensitivo. Apesar de Baumgarten nomear dessa forma nossas faculdades, superior e inferior, ele não quer estabelecer uma hierarquia.
Ele afirma que o lugar onde estamos determina a qualidade da nossa percepção, a representação que adquirimos é conseqüência da posição do nosso corpo dentro do mundo, a partir da nossa posição podemos perceber de modo bom ou ruim as particularidade, ou detalhes, dos objetos, é o que baumgarten chama de marcas distintivas. Existem as percepções: obscura, ocorre quando se apreende poucas marcas distintivas, e é um grau menor do conhecimento; e a percepção clara, que é quando se capta a multiplicidade de marcas distintivas e é um grau maior do conhecimento.
O conhecimento é verdadeiro quando possui maior riqueza de detalhe, ou seja, é sinônimo de realidade, pois quanto mais marcas distintivas se percebe, mais significante é esse conhecimento do objeto, quanto menos marcas distintivas se percebe esse conhecimento contem o mínimo de verdade. O conhecimento se caracteriza por sua abundancia, sua extensão, sua riqueza. O conhecimento que contem o maior numero de verdades é exato (aperfeiçoado), o que oferece menor numero de verdade é grosseiro.
Sensibilidade
Minha sensação deve sua existência á força de representação de que dispõe minha alma em função da posição de meu corpo no mundo. Graças aos órgãos dos sentidos, corpo (tato), nariz, olhos, ouvido, boca, possuo a faculdade de sentir.
A sensação é obscura e fraca quando o objeto da sensação está afastado do ponto sensível; a sensação é forte e clara quando os objetos da sensação estão próximos dos pontos sensíveis.
A sensibilidade mais desenvolvida é chamada de aguda, ou seja, quanto mais os órgãos dos sentidos forem ou tornarem-se capazes de efetuar movimentos que lhe convenham, tanto mais o sentido externo é agudo e aguçado.
A sensibilidade menos desenvolvida é chamada embotada, ocorre quando os órgãos sensoriais são ou tornaram-se menos capazes, tanto mais o sentido externo é embotado.
A sensação externa é facilitada quando:
a) os órgãos dos sentidos estiverem bem preparados para sentir;
b) o objeto a ser sentido estiver bem próximo do órgão;
c) o corpo estiver apto a suscitar no órgão o movimento.
Estética
A Estética (como gnosiologia inferior, como arte de pensar de modo belo) é a ciência do conhecimento sensitivo. Baumgarten afirma que a estética é uma ciência pelo fato dela tratar das sensações, de coisas concretas, ela é possível graças a faculdade inferior, a mesma faculdade que possibilita a Ciência, além disso ela também é auxiliada por outras ciências: a filologia (Estudo de uma língua), a hermenêutica (Arte de interpretar), a exegética (Interpretação), a retórica (Arte de bem falar), a homilitica, a poética (), a musical, etc, o que ele chama de heurística, e ela também pode ser aprendida e desenvolvida através do exercício, educação, pois para baumgarten o conhecimento é um processo.
O fim visado pela estética é a PERFEIÇÃO DO CONHECIMENTO SENSITIVO. Esta perfeição é a BELEZA. A imperfeição do conhecimento sensitivo é o DISFORME, e como tal deve ser evitado.
A beleza universal do conhecimento sensitivo será:
a) o consenso dos pensamentos entre si em direção a unidade, consenso este q se manifesta como a beleza das coisas e do pensamento, que é diferente da beleza do conhecimento e da beleza do objeto, pois as coisas feias em quanto tais, podem ser concebidas de modo belo; e as mais belas de modo feio.
b) o consenso da ordem o consenso interno dos signos e o consenso dos signos com a ordem e com as coisas, à medida que este se manifesta. A beleza universal do conhecimento sensitivo é a beleza as enunciações, tais como a dicção e o estilo, quando o signo é o discurso e o dialogo, é simultaneamente, a ação do orador, isso é seus gestos, quando o discurso é proferido a viva voz.
Da Natureza do Esteta
À natureza do esteta deve pertencer: um refinado e elegante talento inato, cujas faculdades inferiores sejam mais facilmente excitadas em função da elegância do conhecimento. Ao talento refinado deve pertencera: agudamente perceber pelos sentidos, a aptidão para fantasiar, reconhecer, ter boa memória, aptidão poética, gosto fino e apurado, ter disposição de prever e aptidão para expressar suas percepções.
O Exercício Estético
O exercício deve permitir a gradual aquisição do habito de pensar com beleza. A natureza estética não pode se manter, mesmo por um breve período de tempo, num mesmo grão de perfeição. Se suas disposições ou aptidões não forem aperfeiçoadas por exercícios contínuos, ela decresce um tanto, por mais elevada que tenha sido no inicio, e acaba por entorpecer. Há também exercícios que corrompem e deturpam a natureza suficientemente bela, eles devem ser evitados.

Referência Bibliográfica
BAUMGARTEN, A.G. ESTÉTICA: Lógica da Arte e do Poema.Tradução brasileira Míriam S. Medeiros. Rio de Janeiro: Vozes, 1993.
PLATÃO. Fédon. São Paulo: Martin Claret Ltda, 2007.
ANTISERI, D; REALE, G. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulus: Paulus, 1990.

Um comentário:

  1. Olá. gostei muito do seu Blog e especialmente deste artigo.
    Gostaria de solicitar a sua autorização para usar trechos do mesmo como citação em um trabalho que estou a realizar para conclusão da disciplina de Estética da Música, e seu artigo sobre a obra Aesthetica de Baumgarten resume bastante algumas ideias abordadas.
    Se possivel, me confirme por email pamellacorsini@gmail.com
    E mande-me seu nome para que eu possa colocar na referencia. (Professora chata que solicita essas coisas)
    Desde já obrigada.
    Pâmella

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