sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Resenha da obra A Revolução dos Bichos



ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. Tradução Fernando Aquino Ferreira. São Paulo: Globo, 2000. 118 p.
A obra é dividida em dez capítulos, na primeira parte são apresentados os personagens, o major, um velho porco reúne todos eles para tentar mostrar para os bichos o quanto eles são explorados e mal tratados pelo dono, na segunda parte ocorre a morte do velho major e é instituído o Animalismo, liderado pelos porcos inspirados pelas palavras libertárias do velho Major, e os bichos conseguem expulsar o dono da granja, na terceira parte os dois porcos líderes, Bola-de-neve e Napoleão coordenam a colheita de feno, Bola-de-neve tenta ensinar os bichos a ler e escrever, na quarta parte houve a batalha do estábulo, onde o dono e seus homens tentam recuperar a granja, mas os animais vencem, na quinta parte mostra a discordância dos porcos líderes, Napoleão expulsa Bola-de-neve, na sexta parte os bichos trabalhavam mais e tinham menos comida, na sétima parte houve uma noite de assassinatos na frente de todos os bichos, alguns animais são executados sob a acusação de serem espiões de Bola-de-neve, o que não era verdade, na oitava parte a granja dos bichos sofre outro ataque, muitos animais morreram e quase todos ficaram feridos, mas conseguiram expulsar os humanos, na nona parte a granja foi proclamada república e Napoleão o presidente, na décima e última parte ficava evidente que não havia igualdade entre os bichos, os porcos tinham todos os privilégios e cada vez mais se assemelhavam aos humanos.
Todos os bichos ouviram falar de um sonho que o Major teve, ele reuniu todos os bichos: os cachorros, os porcos, as galinhas, os pombos, as ovelhas, as vacas, os dois cavalos, que não tinham muita inteligência, mas tinha retidão de caráter, a cabra, o burro, a gata, todos os animais estavam presentes. Antes de contar o sonho ele tenta abrir os olhos dos animais para mostrar a exploração e a péssima condição de vida deles, ele propõe que os bichos se livrem do homem para que o fruto do trabalho seja só deles.
Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo de alimento necessário para continuar respirando, e os que podem trabalhar são exigidos até a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade. Nenhum animal, na Inglaterra sabe o que é felicidade ou lazer. A vida do animal é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade nua e crua. ORWELL (2000, p.8)
Finalmente o Major conta o sonho, era um sonho de como seria o mundo quando o homem desaparecesse. O velho porco morre, daí por diante houve intensa atividade secreta as palavras dele tinha dado uma direção para a vida dos bichos. Os animais mais inteligentes, que eram os porcos, organizaram os seus ensinamentos em um sistema de pensamento chamado Animalismo, os líderes eram: Napoleão, pouco falante, mas muito determinado; Bola-de-neve, mais ativo e com muita imaginação e Garganta, era um mensageiro muito persuasivo. Os dois discípulos mais fies eram os cavalos Sansão e Quitéria, não pensavam por si próprio, aceitavam os porcos como instrutores e passavam a mensagem adiante por simples repetição. Os animais estavam famintos e revoltados, foi ai que a rebelião ocorreu, Jones, o dono, foi expulso com os seus peões pelos animais. Os bichos entraram na casa grande, observaram todo o luxo e decidiram que nenhum animal poderia morar lá. Os porcos que haviam aprendido a ler e escreve resumiram os princípios do Animalismo em sete: qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo; o que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo; nenhum animal usará roupa; nenhum animal dormirá em cama; nenhum animal beberá álcool; nenhum animal matará outro animal; todos os animais são iguais. Os animais estavam felizes, cada qual trabalhava de acordo com sua capacidade, todo domingo tinha uma assembléia, era sempre os porcos que propunham uma resolução, Bola-de-neve ensina os adultos a ler e escrever, mas nem todos aprendem, Napoleão dizia que a educação dos jovens era mais importante, ele arranca os filhotes dos cachorros e diz que vai se responsabilizar pela educação deles. Os donos das granjas vizinhas estavam com medo de que seus animais também se voltassem contra os seus donos. O sr. Jones, que era o dono da granja, tenta retomar o terreno, mas os bichos conseguem expulsar ele mais uma vez. O tempo piorou, a terra estava ruim, Napoleão e Bola-de-neve não concordavam em nada, Bola-de-neve queria construir um moinho de vento para terem eletricidade, mas Napoleão não achava uma boa idéia, os bichos ouviram um latido terrível, eram cachorros ferozes que Napoleão havia educado, eles foram pra cima de Bola-de-neve e ele nunca mais foi visto. Napoleão com essa guarda canina anuncia para os bichos que as reuniões foram canceladas e que agora só os porcos decidiriam tudo, os bichos ficaram espantados, outros tentaram protestar, mas não conseguiam organizar as idéias. Garganta era mandado para explicar, e usava sempre o mesmo argumento, que se eles não aceitassem o sr. Jones poderia voltar e seria muito pior. Os bichos trabalhavam feito escravos, Napoleão avisa que ele passará a comercializar com os humanos, novamente os animais sentem uma inquietação, uns tentaram questionar, mas logo foram contidos pelo rosnar terrível dos cachorros. Os porcos possuíam vários privilégios, passaram a morar na casa grande, acordavam uma hora mais tarde que os outros animais. Para uma reunião todos os bichos foram chamados, era para ver a execução de vários animais acusados de serem espiões de Bola-de-neve, o que não era verdade. Não era isso que os animais imaginaram no dia do discurso do velho major, eles imaginaram uma sociedade de animais livres da fome do chicote, todos iguais, mas eles viviam em uma época em que ninguém poderia dizer o que pensavam. A granja foi atacada novamente, muitos bichos morreram, mas conseguiram vencer, os porcos comemoraram bebendo uísque na casa grande. A granja torna-se republica e Napoleão o presidente. Passaram-se anos, vários bichos morreram, haviam nascido outros, a rebelião tinha sido esquecida. Os porcos passaram a andar sobre duas patas, e agora só havia um mandamento: todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais que os outros. Os vizinhos foram chamados para jantar com os porcos, os animais presenciaram tudo, olhando pela janela. “As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco”. ORWELL, 2000, P.118.
Depois de terem se livrado do carrasco, o terrível Sr. Jones, os animais da granja criaram suas próprias leis e imaginaram um mundo utópico de liberdade e plenitude, teria dado tudo certo se cada indivíduo se unisse a todos e ninguém se unisse em particular, os animais continuariam livres, uma vez que todos tinham direitos iguais, mas os porcos que coordenavam o grupo formaram uma cruel elite e como dizia Rousseau: “o poder os corrompeu” e os animais se viram novamente sendo explorados. É válido também observar que fazendo uso de uma educação distorcida Napoleão tenta manter seu poder a salvo; outro detalhe bastante importante mostrado pelo autor é a incapacidade que a maioria dos animais tinham de pensar por si só, eles preferiam apenas aceitar o que os porcos decidissem, o que nos leva a Kant, que diria que eles se encontram na menoridade:
Menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servi-se se si mesmo sem a direção de outrem. KANT. Resposta à pergunta: Que é o Esclarecimento? (1783, p.516).
Com a leitura dessa obra, é impossível não se lembrar do movimento revolucionário ocorrido na Rússia czarista em 1917. A revolução é deturpada como em A revolução dos bichos e os líderes subseqüentes a Lênin _ Trotski e Stálin _ possuem divergências ideológicas. Stálin “despacha” o seu “camarada” e passa a administrar autoritariamente a União Soviética de então. Note a semelhança dos fatos coma saga retratada no livro. O caso do regime stalinista russo, certamente inspirou a obra de Orwell.
Eric Arthur Blair nasceu na Índia em
25 de junho de 1903 , foi um jornalista, ensaísta e romancista britânico, que escreveu sob o pseudônimo George Orwell. Sua escrita é marcada por descrições concisas de eventos e condições sociais e o desprezo por todos os tipos de autoridade. Foi agente de polícia no oriente, decidiu então deixar o seu emprego por se sentir mal ao estar oprimindo um povo estrangeiro, desenvolveu então um ódio contra o imperialismo, regressou ao Reino Unido, onde sua vida tomou um rumo incerto. Juntou-se à luta no POUM (Partido Operário de Unificação Marxista), uma milícia de tendência trotskista contra Francisco Franco e seus aliados Mussolini e Hitler, na Guerra Civil Espanhola. Foi ferido no pescoço. Uma bala danificou-lhe as cordas vocais, saindo pelas costas, e desde então sua voz ficou ligeiramente alterada. Mais tarde escreveria o livro Lutando na Espanha, em que relata sua experiência no conflito. Orwell morreu em Londres vítima de tuberculose, aos 46 anos de idade em 21 de janeiro de 1950. Romances: 1934 -Dias na Birmânia; 1935 -A Filha do Reverendo; 1936 -Mantenha o Sistema; 1939 -Um Pouco de Ar, Por Favor!; 1945 -A Revolução dos Bichos entre outros.

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