sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A SOCIABILIDADE MODERNA NA FILOSOFIA POLÍTICA HOBBESIANA


Este artigo foi desenvolvido a partir da leitura das questões propostas por Thomas Hobbes na primeira e segunda parte da obra Leviatã, que falam respectivamente do homem e do Estado, com o objetivo de demonstrar como ocorre a passagem do estado de natureza para o estado social. Apresento o momento histórico vivido por Hobbes, fazendo uma breve comparação distintiva entre seu período e o período grego platônico e o medieval; em seguida falarei sobre o estado de natureza hobbesiano, que é a forma que ele usa para explicar a origem da associação política entre os homens, nesse estado há presente um clima de guerra de todos contra todos, os homens nesse estado sentem enorme desprazer da companhia uns dos outros, pois não existe um poder capaz de manter a todos em respeito, a única segurança oferecida é a própria força, a vida do homem é pobre, solitária, sórdida, embrutecida e curta, havendo sempre presente o temor e perigo da morte violenta, há um desejo universal de autoconservação, assim, para satisfazer os próprios anseios e sobreviver, vale tudo; no momento seguinte demonstro como Hobbes apresenta o Estado, diz que a passagem do estado de natureza para o estado social se dá através dos mesmos instintos de autoconservação que coloca o homem em estado de guerra o faz tender para a paz. O Estado é um corpo artificial representado por um ou mais homens, que estariam à cima dos indivíduos, embora fosse criação e representação destes. Quem comandasse esse corpo político seria denominado soberano, os demais seriam os súditos.
Hobbes¹ viveu em uma época em que o homem manifestava um novo comportamento, onde a experiência era tida como referência para se julgar e compreender a ação humana. Os sentidos eram considerados importantes e seguros para se chegar à verdade, diferente da visão grega platônica, que considerava o mundo sensível ilusório;
(...) as ciências modernas se constituem, desde então, como uma forma de pensar que se caracteriza pelo interrogar metódico da natureza. (...) Poe este processo, o homem progride no seu conhecimento e aprende assim a dominar a natureza e a submetê-la aos fins por ele projetados. TEIXEIRA, (1995, p 35)
A nova forma de pensar da modernidade entrou em contradição com a medievalidade, nas palavras do Teixeira (1995, p. 35 e 36):
Sobressai-se o renascimento das ciências, que passaram a reclamar a autonomia dos conhecimentos científicos frente à Igreja, que mantinha o desenvolvimento do saber prisioneiro dos preceitos estabelecidos pela Sagrada Escritura. Doravante, ciência e fé se separam. Aquela (a ciência) ficou com a tarefa de explicar “como vai o céu”, esta última “como se vai ao céu”. Assim, a matemática, a cartografia a navegação, de um modo geral, as ciências e suas conquistas, deram ao homem condições para organizar e controlar o mundo de forma racional. (...) livra-se dos preconceitos, mitos e fantasias, que faziam do homem joguete das vontades divinas e sobrenaturais.
Deste modo Hobbes só podia pensar o direito, a moral, o Estado a partir de deduções e fundamentações independentes de qualquer revelação Divina, ele tinha que construir sua teoria partindo da experiência social, uma base a partir da qual pudesse derivar uma teoria do Estado, como instancia reguladora da vida social.
Para explicar a origem da associação política entre os homens Hobbes entra no terreno da hipótese ou da ficção, imaginando como seriam os homens em estado de natureza,
isto é, antes de se associarem. O estado natural do homem é o de “guerra de todos contra todos”, isso se explica pelo fato de os homens serem naturalmente iguais, tanto do ponto de vista corporal como espiritual, explica:
(...) o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo. (...), portanto, se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela ser gozada por ambos, eles tornam-se inimigos. HOBBES (1997, p107 e 108)
Os homens nesse estado sentem enorme desprazer da companhia uns dos outros, pois não existe um poder capaz de manter a todos em respeito. Eles se encontram em condição de guerra, “pois a guerra não consiste apenas na batalha, ou no ato de lutar, mas naquele lapso de tempo durante o qual a vontade de travar batalha é suficientemente conhecida”, HOBBES (1997, p.109), a única segurança oferecida é a própria força, a vida do homem é pobre, solitária, sórdida, embrutecida e curta, havendo sempre presente o temor e perigo da morte violenta.
Há um desejo universal de autoconservação, assim, para satisfazer os próprios anseios e sobreviver, vale tudo, até o aniquilamento do outro, pois este representa sempre uma ameaça, homo homini lupus, o homem é o lobo do homem².
Os desejos e as paixões do homem não são em si mesmos um pecado, nem as ações que derivam dessas paixões, pois não há uma lei que as proíba, o que para Hobbes é impossível até que sejam feitas as leis e para que isso ocorra devesse determinar qual pessoa deverá fazê-la. Obeserva-se, no entanto, que nessas condições nada é injusto, pois onde não há lei não há injustiça. O que prevalece é o direito de natureza³, isto é, a liberdade de cada um de preservar a sua natureza e a sua vida como bem entender.
No capítulo XIV do Leviatã Hobbes nos apresenta as primeiras leis de natureza, ou seja, preceitos ou regras gerais estabelecidas pela razão, mediante o qual se proíbe a um homem fazer tudo o que possa destruir sua vida, portanto, para Hobbes a passagem do estado de natureza para o estado social se dá através dos mesmos instintos de autoconservação que coloca o homem em estado de guerra o faz tender para a paz. Assim, para por fim a essa situação de insegurança, o homem teria sido guiado em parte por suas paixões (o medo da morte e o desejo de segurança e conforto), em parte pela razão, que lhe diz que é necessário obter a paz, uma vez que ela é a condição mais compatível com o instinto de autoconservação, esta é a primeira lei de natureza “procurar a paz, e segui-la”. Em seguida os homens devem estabelecer um contrato entre si, é o que se expressa na segunda lei de natureza:
Que um homem concorde, enquanto outros também o façam, e na medida em que tal considere necessário para a paz e para a defesa de si mesmo, em renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens em relação a si mesmo. HOBBES (1997, p. 114)
Hobbes formula assim uma teoria contratualista4 para a questão da origem das associações políticas: o medo, a violência necessidade natural de segurança e tranqüilidade teriam levado os homens a renunciar, por meio de um contrato, à sua liberdade original em troca da promessa feita por todos os membros do grupo social de se respeitarem mutuamente para a manutenção da paz.
Mesmo a razão tendo ditado aos homens que todos devem procurar a paz, e desse principio universal se seguem todas as leis que os indivíduos devem seguir para poderem garantir a conservação da própria vida, mesmo tendo consciência disso é necessário que tais leis sejam postas enquanto seis positivas e obrigadas pelo poder coercitivo do Estado5 , pois elas existem apenas na forma de uma dever ser, e só depois de instituído o Estado elas efetivamente se tornam leis, pois passam então a ser ordem do Estado, portanto também leis civis, pois é o poder soberano que obriga os homens a lhe obedecer.
Assim formou-se o corpo político, o Estado, um corpo artificial representado por um ou mais homens, que estariam a cima dos indivíduos, embora fosse criação e representação destes. Quem comandasse esse corpo político seria denominado soberano, os demais seriam os súditos. Mas para poder atingir seu objetivo, a paz geral, o soberano deveria exercer um poder despótico, e aqueles que estão submetidos ao monarca não podem sem licença deste renunciar a monarquia; aquele que tentar depor seu soberano for morto, ou por ele castigado devido a esta tentativa, será o autor de seu próprio castigo, pois por instituição é autor de tudo quanto seu soberano fizer; pertence
a soberania todo poder de descrever as regras, ele tem também a autoridade judicial, ou seja de julgar, possui também o poder de fazer a guerra e a paz com outras nações e Estados.O Estado seria um verdadeiro monstro sendo denominado por Hobbes de Leviatã6.
Thomas Hobbes sinaliza uma postura radical, que adotou com o objetivo de explicar a organização da sociedade e o poder do Estado: partindo da análise do homem em sua realidade, ele focaliza tanto seu lado luminoso como seus aspectos obscuros, talvez com maior ênfase neste, para depois, num processo de síntese, justificar a formação do Estado absolutista. Ele se mostra, portanto, um defensor do absolutismo. Vivendo num período conturbado de disputas entre o parlamento inglês e os reis e guerras civis, colocou-se contra a monarquia constitucional, pois acreditava que a divisão do poder gerava competições que comprometiam a paz. Mas, embora acreditasse na necessidade de uma obediência incondicional ao poder instituído, ele defendia que, se o soberano não cumprisse sua parte no pacto, isto é se não conseguisse manter a paz, a propriedade e, fundamentalmente a vida dos cidadãos, estes poderiam desobedecer-lhe, pois o pacto teria sido quebrado.
Além de sua visão cética em relação ao homem e à sua natureza sociável, o pensamento político de Hobbes inovou em relação a teoria dos demais pensadores de seu tempo, uma vez que o absolutismo defendido por ele não derivava de um direito divino, como nas doutrinas de Bodin e Bossue: ele nasceria de um pacto, que quando bem cumprido, levaria, como vimos, necessariamente ao absolutismo.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CHALITA. Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Ática, 2005.
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (col. Os pensadores).
TEIXEIRA. Francisco José Soares. Economia e Filosofia no Pensamento Político Moderno. Campinas, SP: Pontes, Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará, 1995.

AS DIFICULDADES TEÓRICAS PRESENTES NO PENSAMENTO CARTESIANO APRESENTADAS POR GILBERT RYLE NA OBRA INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA - O CONCEITO DE ESPÍRITO


Pretendo demonstrar neste artigo as dificuldades teóricas apresentadas por Gilbert Ryle na dualidade entre corpo e mente no pensamento de Descartes. O autor defende que os princípios centrais do racionalismo cartesiano estão errados. Afirma Ryle (1970, p. 16): “Espero provar que a doutrina oficial é inteiramente falsa, não em pormenor, mas em principio. Não é uma mera reunião de erros particulares. É um grande erro e um erro de gênero especial. É, designadamente, um erro-categoria.” Ryle (1970, p. 18): “Meu propósito destrutivo é mostrar que uma família de erros categoria radicais é a fonte da teoria da dupla vida”. Para tanto explicitarei sobre a natureza do corpo e a natureza da mente, apresentada por Descartes, para assim compreendermos as dificuldades encontradas por Ryle.
O pensamento cartesiano diz que todo ser humano é simultaneamente corpo e espírito. O corpo existe no espaço, está sujeito as leis mecânicas que governam todos os outros corpos existentes no espaço, e os estados do corpo podem ser notados por observadores externos. Em oposição o espírito não existe no espaço e as suas operações não estão sujeitas as leis mecânicas, o seu trabalho não é testemunhado por observadores, só o individuo pode ter conhecimento direto dos estados do seu próprio espírito.
Uma pessoa vive portanto através de duas histórias colaterais, constituindo uma no que acontece no e ao seu corpo, a outra no que acontece no e ao seu espírito. A primeira é pública, a segunda privada. Os acontecimentos da primeira história fazem parte do mundo físico, os da segunda são acontecimentos do mundo mental. RYLE (1970, p. 12).
O autor aponta como um das dificuldades teóricas da doutrina oficial o problema de como o corpo e o espírito se interinfluênciam, ele afirma que o que o espírito quer é executado pelo corpo e o que afeta o corpo tem algo a ver com as percepções do espírito.
Essa dificuldade já é evidenciada pelo molde lógico utilizado, onde as operações do espírito tinham que ser o oposto das descrições do corpo; não existe no espaço, não são modificações da matéria, não são acessíveis a observações públicas.
A cresça de que há uma oposição diametral entre espírito e matéria vem da cresça de que são termos do mesmo tipo lógico; ou existe espírito ou existe corpo ( mas não ambas), seria como dizer: ela comprou uma luva da mão direita e uma luva da mão esquerda, ou um par de luvas (mas não ambas).
Sobre o conhecimento que o espírito assegura o autor demonstra que há evidencia mostrada por Freud que as pessoas são movidas por impulsos, alguns pensamentos diferem daqueles que confessam. No entanto os defensores do racionalismo defendem que o individuo tem conhecimento direto e autentico do estado do seu espírito.
Também se supõe que o individuo é capaz de exercer uma percepção interior, e esta auto-observação está imune a ilusão, a confusão ou a dúvida; mas o autor afirma que por outro lado, uma pessoa não tem acesso direto a nenhuma espécie de conhecimento sobre a vida interior de outra, sendo assim não se pode fazer mais que inferências problemáticas ao comportamento físico observado do corpo. O acesso direto a atividade de um espírito é um privilégio desse próprio espírito, sendo oculta para qualquer outra pessoas.
Como já foi dito anteriormente a doutrina de Descartes é falsa, e um erro de gênero especial, é um erro-categoria, que são cometidos quando não se sabe utilizar os conceitos.
“Os erros-categoria de interesse teórico são os produzidos por pessoas perfeitamente capazes de aplicar conceitos, mas que estão ainda sujeitas, nos seus pensamentos abstratos, a situar esses conceitos em tipos lógicos a que eles não pertencem.” RYLE (1970, p. 17).
Uma das principais origens do erro-categoria cartesiano foi quando Galileu mostrou que os seus métodos de descoberta científica eram capazes de estabelecer uma teoria mecânica que abrangeria todos os ocupantes do espaço. Descartes encontrou em si próprio duas afirmações em conflito: como homem de gênio cientista tinha que aprovar as descobertas da mecânica; ao passo que como homem religioso e moral não poderia aceitar que a natureza humana difere apenas em grau de complexidade do mecanismo de um relógio, o mental não poderia ser variedade do mecânico.
Descartes empregou a seguinte escapatória, as leis mecânicas explicam movimentos no espaço como efeito de outros movimentos no espaço, outras leis devem explicar operações não espaciais dos espíritos como efeito de outras operações não espaciais dos espíritos; a diferença está na causa, alguns são originados por movimentos de partículas de matéria, outros são originados por atividades do espírito.
Descarte insiste em afirmar que corpo e mente são distintos e se excluem mutuamente e que a mente existe independente do corpo. Admitindo essa dualidade cartesiana estaremos admitindo também dois modos de conhecer: um externo e público, que depende da experiência , e outro interno e privado que independe da experiência. E assim cada indivíduo reconhece seu próprio estado mental, criando deste modo um grande problema para se chegar ao que é verdadeiro e ao que é fácil. Pois é sujeito que pensa a realidade não pode determinar se o seu pensamento é verdadeiro ou falso se o mesmo não for discutido e avaliado por outros seres pensantes que possam perceber essa mesma realidade, e como a mente é privada, cada individuo tem experiência apenas da sua própria mente.

REFERÊNCIAS
DINIZ, F. R. A; AQUINO, J. A; CARMO, L. A. D.. Princípio: Discussões Filosóficas II. 2 ed. Sobral: Edições UVA, 2008.
RYLE, Gilbert. Introdução à Psicologia – O Conceito de Espírito.Tradução de M. Luisa Nunes. Lisboa, 1970.

Estética como Ciência, segundo Baumgarten, na obra ESTÉTICA: Lógica da Arte e do Poema


Entre o final do século XVII e a primeira metade do século XVIII, a principal influência sobre a filosofia do iluminismo proveio das concepções mecanicistas da natureza que haviam surgido na seqüência da chamada revolução científica do século XVII. Neste contexto, o mais influente dos cientistas e filósofos da natureza foi então o físico inglês Isaac Newton. Em geral, pode-se afirmar que a primeira fase do Iluminismo foi marcada por tentativas de importação do modelo de estudo dos fenômenos físicos para a compreensão dos fenômenos humanos e culturais.
É possível apontar duas correntes filosóficas, em especial, como as principais influências que contribuíram para formar a mentalidade iluminista: o empirismo inglês e o racionalismo do século XVII.
Baumgarten é um dos principais representantes do Iluminismo, é um filosofo alemão do século XVIII , foi o primeiro a usar o termo estética e também a ministrar o curso de estética. Ele segue a mesma linha de Descartes, pois para ele a alma é o que nos permite ter consciência da nossa existência, ou seja, para ele a razão é o que nos permite existir. Divide a razão em duas faculdades, a faculdade superior e a faculdade inferior, a estética só é possível por causa dessa faculdade inferior. Ele afirma que a partir da nossa posição podemos perceber de modo claro ou obscuro as marcas distintivas.
A sensibilidade mais desenvolvida é chamada de aguda, a sensibilidade menos desenvolvida é chamada embotada.
Baumgarten afirma que a Estética é uma Ciência. O fim visado pela Estética é a PERFEIÇÃO DO CONHECIMENTO SENSITIVO. À natureza do esteta deve pertencer: um refinado e elegante talento inato, cujas faculdades inferiores sejam mais facilmente excitadas em função da elegância do conhecimento. O exercício deve permitir a gradual aquisição do hábito de pensar com beleza.
A área escolhida para o desenvolvimento desse projeto de pesquisa é a Estética, do grego aisthésis, percepção, sensação, é um ramo da filosofia que tem por objeto o estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Ela estuda o julgamento e a percepção do que é considerado belo, a produção das emoções pelos fenômenos estéticos, bem como as diferentes formas de arte e do trabalho artístico; a idéia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e formas nas artes. Por outro lado, a estética também pode ocupar-se da privação da beleza, ou seja, o que pode ser considerado feio.
Platão entendeu que os objetos incorporavam uma proporção, harmonia e união, buscou entender estes critérios. O belo para Platão estava no plano do ideal, mais propriamente a idéia do belo em si, era colocada por ele como absoluto e eterno, não dependeria dos objetos, ou seja, da materialidade, era a própria idéia de perfeição, estava plenamente completo, restando ao mundo sensível apenas a imitação ou a cópia desta beleza perfeita. Platão dissociava o belo do mundo sensível, sua existência ficava confinada ao mundo das idéias, associando-se ao bem, a verdade, ao imutável e a perfeição. Para Platão somente a partir do ideal de beleza suprema é que seria possível emitir um juízo estético, portanto definir o que era ou não belo, ou o que conteria maior ou menor beleza. Por estar fora do mundo sensível o belo platônico está separado também da intromissão do julgamento humano.
Desejamos explicar pr que certa coisa é bela? Ora, para explicar esse porquê o naturalista invocaria elementos puramente físicos, como a cor, a figura e outros elementos desse tipo. Entretanto – Diz Platão – não são essas as “verdadeiras causas”, mas ao contrario, apenas meios ou “con-causas”. Impõe-se, portanto, postular a existência de uma causa ulterior, que para constituir verdadeira causa, deverá ser algo não sensível, mas inteligível. Essa causa é a idéia ou forma pura do belo em si, a qual a partir de sua participação ou presença faz com que as coisas empíricas sejam belas, isto é se realize segundo determinada forma, cor e proporção como convém e precisamente com devem ser para que possa ser bela. PLATÃO (2007, P190).
O belo em Platão serviria para conduzir o homem à perfeição, ao qual restaria a cópia fiel e a simulação, estas concepções filosóficas vão permear a arte grega e ocidental por um longo período, até o século XVIII, com momentos históricos de maior ou menor ênfase no fazer artístico.
Aristóteles, discípulo de Platão, ao contrário de seu mestre, concebeu o belo a partir da realidade sensível, deixando este de ser algo abstrato para se tornar concreto, o belo materializa-se, a beleza no pensamento aristotélico já não era imutável, nem eterna, podendo evoluir. Aristóteles dará o primeiro passo para a ruptura do belo associado à idéia de perfeição, trará o belo para a esfera mundana, colocará a criação artística sob a égide humana, já não mais separada do homem, mas intrínseco a ele. Com Aristóteles abrem-se às perspectivas dos critérios de julgamento do fazer artístico, conferindo ao artista a possibilidade de individuação. O belo aristotélico seguirá critérios de simetria, composição, ordenação, proposição, equilíbrio.
Kant, ainda no século XVIII, tentan-do resolver esse impasse entre objetividade e subjetividade, afirma que o belo é "aquilo que agrada universalmente, ainda que não se possa justificá-lo intelectualmente". Para de, o objeto belo é uma ocasião de prazer, cuja causa reside no sujeito. O princípio do juízo estético, portanto, é o sentimento do sujeito e não o conceito do objeto. Apesar de esse juízo ser subjetivo, ele não se reduz à individualidade de um único sujeito, uma vez que todos os homens têm as mesmas condições subjetivas da faculdade de julgar. É algo que pertence à condição humana, isto é, porque sou humano, tenho as mesmas condições subjetivas de fazer um juízo estético que meu vizinho ou o crítico de arte. O que o crítico de arte tem a mais é o seu conhecimento de história e a sensibilidade educada. Assim, o belo é uma qualidade que atribuímos aos objetos para exprimir um certo estado da nossa subjetividade, não havendo, portanto, uma idéia de belo nem regras para produzi-lo. Existem objetos belos que se tornam modelos exemplares e inimitáveis.
Hegel, no século seguinte, introduz o conceito de história. A beleza muda de face e de aspecto através dos tempos. E essa mudança (chamada devir), que se reflete na arte, depende mais da cultura e da visão de mundo presentes em determinada época do que de uma exigência interna do belo.
Hoje em dia, numa visão fenomeno-lógica, consideramos o belo como uma qualidade de certos objetos singulares que nos são dados à percepção. Beleza é, também, a imanência total de um sentido ao sensível, ou seja, a existência de um sentido absolutamente inseparável do sensível. O objeto é belo porque realiza o seu destino, é autêntico, é verdadeiramente segundo o seu modo de ser, isto é, é um objeto singular, sensível, que carrega um significado que só pode ser percebido na experiência estética. Não existe mais a idéia de um único valor estético a partir do qual julgamos todas as obras. Cada objeto singular estabelece seu próprio tipo de beleza.
Através de uma dissertação expositiva pretendo demonstrar fielmente, o que possibilita a Estética ser uma Ciência, segundo Baumgarten na obra ESTÉTICA: Lógica da Arte e do Poema .
Compreender melhor como ocorre a relação entre o conhecimento sensível, onde a experiência é a base do conhecimento, ou seja, adquire-se a sabedoria através da percepção do mundo externo e o conhecimento racional, que é quando a obtenção de conhecimento se dá pelas idéias inatas, que seriam pensamentos existentes no homem desde sua origem que o tornariam capazes de intuir as demais coisas do mundo, segundo o filosofo alemão Baumgarten.
O belo e têm sido objeto de estudo ao longo de toda a história da filosofia. A estética enquanto disciplina filosófica surgiu na antiga Grécia, como uma reflexão sobre as manifestações do belo natural e o belo artístico. O aparecimento desta reflexão sistemática é inseparável da vida cultural das cidades gregas, onde era atribuída uma enorme importância aos espaços públicos, ao livre debate de idéias e aos poetas, arquitetos, dramaturgos e escultores era conferido um grande reconhecimento social.
Alma
Baumgarten divide a razão em duas faculdades, a faculdade superior, que nos permite tratar de temas metafísicos, e a faculdade inferior, que embora seja uma instancia racional é auxiliada pelos sentidos, ela é responsável pela produção da ciência, incluindo a estética, que só é possível por causa dessa faculdade inferior, pois a estética é a ciência do conhecimento sensitivo. Apesar de Baumgarten nomear dessa forma nossas faculdades, superior e inferior, ele não quer estabelecer uma hierarquia.
Ele afirma que o lugar onde estamos determina a qualidade da nossa percepção, a representação que adquirimos é conseqüência da posição do nosso corpo dentro do mundo, a partir da nossa posição podemos perceber de modo bom ou ruim as particularidade, ou detalhes, dos objetos, é o que baumgarten chama de marcas distintivas. Existem as percepções: obscura, ocorre quando se apreende poucas marcas distintivas, e é um grau menor do conhecimento; e a percepção clara, que é quando se capta a multiplicidade de marcas distintivas e é um grau maior do conhecimento.
O conhecimento é verdadeiro quando possui maior riqueza de detalhe, ou seja, é sinônimo de realidade, pois quanto mais marcas distintivas se percebe, mais significante é esse conhecimento do objeto, quanto menos marcas distintivas se percebe esse conhecimento contem o mínimo de verdade. O conhecimento se caracteriza por sua abundancia, sua extensão, sua riqueza. O conhecimento que contem o maior numero de verdades é exato (aperfeiçoado), o que oferece menor numero de verdade é grosseiro.
Sensibilidade
Minha sensação deve sua existência á força de representação de que dispõe minha alma em função da posição de meu corpo no mundo. Graças aos órgãos dos sentidos, corpo (tato), nariz, olhos, ouvido, boca, possuo a faculdade de sentir.
A sensação é obscura e fraca quando o objeto da sensação está afastado do ponto sensível; a sensação é forte e clara quando os objetos da sensação estão próximos dos pontos sensíveis.
A sensibilidade mais desenvolvida é chamada de aguda, ou seja, quanto mais os órgãos dos sentidos forem ou tornarem-se capazes de efetuar movimentos que lhe convenham, tanto mais o sentido externo é agudo e aguçado.
A sensibilidade menos desenvolvida é chamada embotada, ocorre quando os órgãos sensoriais são ou tornaram-se menos capazes, tanto mais o sentido externo é embotado.
A sensação externa é facilitada quando:
a) os órgãos dos sentidos estiverem bem preparados para sentir;
b) o objeto a ser sentido estiver bem próximo do órgão;
c) o corpo estiver apto a suscitar no órgão o movimento.
Estética
A Estética (como gnosiologia inferior, como arte de pensar de modo belo) é a ciência do conhecimento sensitivo. Baumgarten afirma que a estética é uma ciência pelo fato dela tratar das sensações, de coisas concretas, ela é possível graças a faculdade inferior, a mesma faculdade que possibilita a Ciência, além disso ela também é auxiliada por outras ciências: a filologia (Estudo de uma língua), a hermenêutica (Arte de interpretar), a exegética (Interpretação), a retórica (Arte de bem falar), a homilitica, a poética (), a musical, etc, o que ele chama de heurística, e ela também pode ser aprendida e desenvolvida através do exercício, educação, pois para baumgarten o conhecimento é um processo.
O fim visado pela estética é a PERFEIÇÃO DO CONHECIMENTO SENSITIVO. Esta perfeição é a BELEZA. A imperfeição do conhecimento sensitivo é o DISFORME, e como tal deve ser evitado.
A beleza universal do conhecimento sensitivo será:
a) o consenso dos pensamentos entre si em direção a unidade, consenso este q se manifesta como a beleza das coisas e do pensamento, que é diferente da beleza do conhecimento e da beleza do objeto, pois as coisas feias em quanto tais, podem ser concebidas de modo belo; e as mais belas de modo feio.
b) o consenso da ordem o consenso interno dos signos e o consenso dos signos com a ordem e com as coisas, à medida que este se manifesta. A beleza universal do conhecimento sensitivo é a beleza as enunciações, tais como a dicção e o estilo, quando o signo é o discurso e o dialogo, é simultaneamente, a ação do orador, isso é seus gestos, quando o discurso é proferido a viva voz.
Da Natureza do Esteta
À natureza do esteta deve pertencer: um refinado e elegante talento inato, cujas faculdades inferiores sejam mais facilmente excitadas em função da elegância do conhecimento. Ao talento refinado deve pertencera: agudamente perceber pelos sentidos, a aptidão para fantasiar, reconhecer, ter boa memória, aptidão poética, gosto fino e apurado, ter disposição de prever e aptidão para expressar suas percepções.
O Exercício Estético
O exercício deve permitir a gradual aquisição do habito de pensar com beleza. A natureza estética não pode se manter, mesmo por um breve período de tempo, num mesmo grão de perfeição. Se suas disposições ou aptidões não forem aperfeiçoadas por exercícios contínuos, ela decresce um tanto, por mais elevada que tenha sido no inicio, e acaba por entorpecer. Há também exercícios que corrompem e deturpam a natureza suficientemente bela, eles devem ser evitados.

Referência Bibliográfica
BAUMGARTEN, A.G. ESTÉTICA: Lógica da Arte e do Poema.Tradução brasileira Míriam S. Medeiros. Rio de Janeiro: Vozes, 1993.
PLATÃO. Fédon. São Paulo: Martin Claret Ltda, 2007.
ANTISERI, D; REALE, G. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulus: Paulus, 1990.

A Metafísica Aristotélica





A partir da definição que Aristóteles deu à metafísica, (como ciência que indaga: a) as causas e os princípios primeiros ou supremos; b) o ser enquanto ser; c) a substância; d) a substância supra-sensível) desenvolveremos esse estudo. Iniciando com uma breve explanação sobre a vide de Aristóteles, seus estudos na Academia, quando discípulo de Platão, e a fundação do Liceu; seguindo com a divisão das ciências, Teoréticas, Práticas, Poiética; discutindo também a origem do termo metafísica, que não é um termo aristotélico; concluindo com uma rápida comparação entre a metafísica de Aristóteles, Platão e Parmênides.
Aristóteles nasceu em 384/383 a.C. em Estagira, filho de pai médico, que servia ao rei da Macedônia, daí podemos concluir que Aristóteles na sua juventude freqüentou a corte. Depois da morte dos pais ele viajou para Atenas e logo entrou na academia platônica.
É certo que, durante os vinte anos passados na Academia, que são os anos decisivos na vida de um homem, Aristóteles assimilou os princípios platônicos em sua substância, defendendo-os em alguns escritos e, ao mesmo tempo, submetendo-os a prementes críticas, tentando encaminhá-los para uma novas direções. ANTISERI, D; REALE, G (1990, p 173).
Com a morte de Platão, Aristóteles deixa a Academia, por que a direção da escola havia sido tomada por uma corrente distante das suas convicções. Mas, em 335/334 a. C. Aristóteles volta para Atenas e funda uma escola, o Liceu. Ele ministrava seus ensinamentos passeando pelo jardim, por isso a escola também ficou conhecida como perípatos, que quer dizer passeio, e seus seguidores denominados peripatéticos.
Assim, o perípatos se contrapôs a Academia, inclusive eclipsando-a inteiramente por um certo período de tempo. Foram esses os anos mais fecundos na produção de Aristóteles, o período que viu o acabamento e a grande sistematização dos tratados filosóficos e científicos que chegaram até nós. ANTISERI, D; REALE, G (1990, p 175).
Aristóteles dividiu as ciências em três ramos: ciências Teoréticas, que são as ciências que buscam o saber em si mesmo; ciências Práticas, são as ciências que buscam o saber, para através dele alcançar a perfeição moral; ciências Poiéticas, que são as ciências que buscam o saber em função do fazer.
As mais elevadas são as primeiras, Teoréticas e Práticas, constituídas respectivamente pela metafísica e a física. Nesse trabalho pretendo aprofundar a exposição nas ciências Teoréticas, na metafísica aristotélica.
O termo metafísica, que quer dizer o que está além da física, não é um termo aristotélico, surgiu durante a organização das obras de Aristóteles realizada por Andrônico de Rodes no século I a.C., Aristóteles usava a expressão “Filosofia Primeira” ou ainda “Teologia”. A “Filosofia Primeira” é a Ciência que se ocupa das realidades que estão acima das realidades físicas, ou seja, toda tentativa do pensamento humano no sentido de ultrapassar o mundo empírico para alcançar uma realidade meta - empírica passou a ser denominado metafísica.
São nada menos do que quatro as definições que Aristóteles deu a metafísica: a) a metafísica “indaga as causas e os princípios primeiros ou supremos”; b) a metafísica “indaga o ser enquanto ser”; c) a metafísica “indaga a substância”; d) a metafísica “indaga a substância supra-sensível”. ANTISERI, D; REALE, G (1990, p 179).
Aristóteles busca as causas primeiras, ele afirma que essas causas são finitas quanto ao número, e no que se refere ao mundo do devir, estabelece as seguintes quatro causas: formal, material, eficiente e final.
As causas formal e material se referem respectivamente, a forma ou essência, e a matéria, que constituem todas as coisas. Elas são suficientes para se explicar a realidade se a considerarmos estaticamente, mas se a considerarmos dinamicamente, no seu devir, então apenas estas causas não bastão mais. Podemos pegar como exemplo um dado homem estático, ele se reduz à matéria (carne e osso) e forma (alma), mas se o considerarmos dinamicamente,(nascimento, desenvolvimento) então são necessárias duas outras causas, a causa eficiente, que o gerou, e a causa final, o fim ou o objetivo do qual tende o devir do homem.
Como já foi dito anteriormente, Aristóteles afirma que a metafísica é a ciência que considera o ser enquanto ser e as propriedades que lhe cabem enquanto tal. Ela não se identifica com nenhuma das ciências particulares, pois elas não consideram o ser enquanto ser universal, mas sim, depois de delimitar uma parte dela, cada uma estuda uma característica dessa parte.
O ser não tem apenas um, mas múltiplos significados, Aristóteles reúne todos os significados possíveis do ser, distinguindo quatro grupos fundamentais: 1) o ser como categoria, o ser em si; 2) o ser como ato e potência; 3) o ser como acidente; 4) o ser como verdadeiro.
As categorias representam as divisões do ser, são elas: substância ou essência; qualidade; quantidade; relação; ação ou agir; paixão ou sofrer; onde ou lugar; quando ou tempo; ter; jazer. Somente a primeira categoria tem uma subsistência autônoma, enquanto todas as outras pressupõem a primeira.
O segundo grupo de significado, o do ato e potência, é muito importante, só podem ser definidos apenas em relação mútua. Podemos tomar como exemplo uma plantinha de trigo, que “é” trigo “em potência”, ao passo que a espiga madura “é” trigo em ato. Essa distinção desempenha um papel essencial no sistema aristotélico. A potência e o ato se dão em todas as categorias.
O próximo significado a ser explicitado é o ser acidental que é o ser causal, aquilo que “acontece de ser”. Trata-se de um modo de ser que não apenas depende de outro ser como também não está ligado a ele por nenhum vínculo essencial.
Há também o ser como verdadeiro, esse tipo de ser é estudado na lógica. É aquele tipo de ser próprio da mente humana que pensa as coisas e sabe conjugá-las como elas estão conjugadas na realidade ou separá-las quando elas estão separadas. O ser como falso é quando a mente conjuga aquilo que não está conjugada ou separa aquilo que não está separado na realidade.
Aristóteles também define a metafísica simplesmente como “teoria da substância”, pelo fato de ser a substância o eixo em torno do qual giram todos os significados do ser. A substância é constituída pelas realidades sensíveis; pela forma, enquanto princípio que determina, concretiza realidade à matéria; e é constituída também pelo que Aristóteles vem chamar de “Sinolo”, conjunto de matéria e forma, reúne tanto a “substancialidade” do princípio material quanto a do formal.
O que é então a substancia geral? 1) os naturalistas apontam os elementos materiais como o princípio substancial. 2) os platônicos indicavam a forma. 3) para os homens comuns, no entanto, a substancia parecia ser o individuo e a coisa concreta, feitos a um só tempo de matéria e forma. Quem tem razão? Segundo Aristóteles, ao mesmo tempo, todos e nenhum têm razão, no sentido de que, tomadas singularmente, essas respostas são parciais, ou seja unilaterais, mas, em seu conjunto, nos dão a verdade. ANTISERI, D; REALE, G (1990, p 184).

Por ultimo é importante examinarmos a seguinte afirmação aristotélica: “a metafísica indaga a substância supra- sensível”.
As substâncias são as realidades primeiras, pois todos os outros modos dependem dela. Se as substâncias fossem corruptíveis, tudo que existisse seria também corruptível. Mas para Aristóteles o tempo e o movimento são incorruptíveis.
O tempo não foi gerado nem se corromperá: com efeito antes da geração do tempo, deveria ter havido um “antes” e, depois da destruição do tempo, deveria haver um “depois”. Ora “antes” e “depois” outra coisa não são do que tempo. Em outras palavras o tempo é eterno. O mesmo raciocínio vale também para o movimento, porque, segundo Aristóteles, o tempo outra coisa não é do que uma determinação do movimento. Sendo assim, a eternidade do primeiro postula também a eternidade do segundo. ANTISERI, D; REALE, G (1990, p 186).

Com base nos seus estudos das condições do movimento na física, ele conclui que a condição de subsistir um movimento e um tempo eterno só se dá a partir de um principio primeiro que seja causa deles. Esse princípio deve ser: eterno, pois se o movimento é eterno eterna também deve ser sua causa; o principio deve ser imóvel, pois só o imóvel é causa absoluta do móvel; em terceiro lugar o principio deve ser imaterial, privado de potencialidade, isto é ato puro.
Essa substância supra- sensível que move permanecendo absolutamente imóvel é o “Primeiro Motor”.
No âmbito das coisas que nós conhecemos existirá algo que saiba mover sem mover-se ele próprio? Aristóteles responde apresentando como exemplos coisas como “o objeto do desejo e da inteligência” . O objeto do desejo é aquilo que é belo e bom: o belo e o bom atraem a vontade do homem sem moverem-se de modo algum; da mesma forma, o inteligível move a inteligência sem mover-se. Analogamente o Primeiro Motor “move do mesmo modo como o objeto de amor atrai o amante” e, como tal, permanece absolutamente imóvel. Evidentemente, a causalidade do Primeiro Motor não é uma causalidade do tipo “eficiente”( do tipo exercido por uma mão que move um corpo, pelo escultor que modela o mármore ou pelo pai que gera o filho), sendo, mais propriamente, uma causalidade de tipo “final”( Deus atrai e, portanto, move, com, como “perfeição”). ANTISERI, D; REALE, G (1990, p 186).

Diferentemente de seus dois predecessores, Parmênides e Platão, Aristóteles não julga o mundo das coisas sensíveis, ou a Natureza, um mundo aparente e ilusório. Pelo contrário, é um mundo real e verdadeiro cuja essência é, justamente, a multiplicidade de seres e a mudança incessante. Em lugar de afastar a multiplicidade e o devir como ilusões ou sombras do verdadeiro Ser, Aristóteles afirma que o ser da Natureza existe, é real, que seu modo próprio de existir é a mudança e que esta não é uma contradição impensável. É possível uma ciência teorética verdadeira sobre a Natureza e a mudança: a física.
Partindo da sensação até alcançar a intelecção. A essência de um ser ou de uma ação é conhecida pelo pensamento, que capta as propriedades internas desse ser ou dessa ação, sem as quais ele ou ela não seriam o que são. A metafísica não precisa abandonar este mundo, mas, ao contrário, é o conhecimento da essência do que existe em nosso mundo. O que distingue a ontologia ou metafísica dos outros saberes (isto é, das ciências e das técnicas) é o fato de que nela as verdades primeiras ou os princípios universais e toda e qualquer realidade são conhecidos direta ou indiretamente pelo pensamento ou por intuição intelectual, sem passar pela sensação, pela imaginação e pela memória. CHAUÍ, Marilena, (1994)

Aristóteles considera que a essência verdadeira das coisas naturais e dos seres humanos e de suas ações não está no mundo inteligível, separado do mundo sensível, onde as coisas físicas ou naturais existem e onde vivemos. As essências, diz Aristóteles, estão nas próprias coisas, nos próprios homens, nas próprias ações e é tarefa da Filosofia conhecê-las ali mesmo onde existem e acontecem.

Referência Bibliográfica
ANTISERI, D; REALE, G. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulus: Paulus, 1990.
ARISTÓTELES, In: Metafísica. REALE, Giovanni (org). Tradução: Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática,1994.
LARA, Thiago Adão. A Filosofia nas suas Origens Gregas. Petrópolis: Vozes, 1989

O processo de ensino e a aprendizagem a partir do Filme: Os escritores da liberdade


Michele Gomes Alves
Orientador: Prof. Ermínio de Sousa Nascimento
O filme, Escritores da Liberdade (Freedom Writers, EUA, 2007), aborda a questão de uma aprendizagem efetivamente posta em prática em total comunhão com a vivência individual e coletiva dos educandos e as dificuldades enfrentadas por educadores que com abordagens diferentes, se depara com um sistema burocrático e excludente, neste ponto percebemos a semelhança com o que Cipriano Luckesi em sua Obra Filosofia da Educação nos fala, quando ele se refere aos métodos de ensino na Tendência Progressista Libertadora em que o verdadeiro conhecimento se dá mediante um autêntico diálogo e só assim educandos e educadores se conhecerão melhor, enquanto que nas Tendências Tradicionais e Tecnicistas o que se dá é uma “Educação Bancária” não há uma preocupação com o aluno em si, mas sim com o conteúdo que este vai apreender, independente da forma como isto vai acontecer; o que ocorre aqui e o Filme mostra bem isto, é que o estado psicológico e emocional tanto no que se refere a acontecimentos passados como presentes influenciam de forma determinante no aprendizado do aluno, então é praticamente impossível um bom desempenho educacional sem dá a devida importância a estes aspectos.
O nome Escritores da Liberdade sugere exatamente uma educação pautada em uma liberdade de expressão seja qual for a raça, a religião ou a cultura; assim o educando poderá elaborar suas próprias opiniões mediante um ambiente propício, lembrando que, não existe uma metodologia formada incondicionalmente, ou pelo menos é bom que não se tenha, pois de acordo com a relação educador-educando é que esta será formulada, neste trecho pretendemos fazer uma ligação com as colocações de Paulo Freire em sua obra Pedagogia da Autonomia, em que o processo para se chegar a esta autonomia se dá em meio a uma generosidade entre educando e educador, no sentido de aceitação de ambas as colocações e verificação dos valores que regem a vida destes, daí a necessidade de conhecer e dialogar sobre a realidade do educando; para Luckesi, na obra acima mencionada, o que direciona a vida do homem em sociedade, são os valores morais, religiosos, culturais ou étnicos e a filosofia é a peça fundamental na avaliação destes valores.
Existe todo um contexto social do qual o aluno faz parte, então como é possível pensar uma boa aprendizagem desvinculada destes aspectos? O filme trata bem esta questão, quando dá vida e importância às condições do meio social, incluindo: situações familiares, drogas, violência, discriminação, etc.; que são circunstâncias pelas quais os educandos passam e que exercem de forma expressiva influência no desenvolvimento do aluno. Em determinado momento do filme, a professora percebendo a dificuldade e rebeldia dos alunos em sala de aula, pensou estratégias que reduzisse as diferenças entre eles, criando, por exemplo, um jogo da verdade em que as pessoas se aproximavam umas das outras todas às vezes que as perguntas feitas pela professora retratasse situações vivenciadas por eles, e para evitar um confronto direto entre os mesmos ela se utilizou de uma fita que demarcava o lugar que cada um deveria parar.Com isto, a Professora trouxe uma harmonia não só para a sala de aula como também para o cotidiano de seus alunos, que a partir daquele momento conhecendo melhor uns aos outros, se sentiram fazendo parte de um todo ou de uma família, pois como são integrantes de um mesmo país e de um cotidiano que engloba todos os problemas acima mencionados, é evidente a semelhança entre eles, o que gera a necessidade de apoio e passagem do individual para o coletivo; admitindo isto, passaram a trabalhar em grupo obtendo assim um melhor desempenho.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura).
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994. (Coleção Magistério, 2º grau, Série formação do professor).

A importância e as limitações da Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire para a prática educativa


Na obra Pedagogia da Autonomia Paulo Freire demonstra os saberes fundamentais para a prática docente de forma otimista e idealizada, objetivo aqui demonstrar a sua importância, mas também suas limitações.
O autor toca em pontos importantes como a necessidade de refletir sobre a prática, ou seja, analisar constantemente o modo como estamos trabalhando, se os métodos que estamos usando estão sendo eficazes; outro ponto fundamental é a respeito aos saberes do educando, o professor erra em entrar na sala e se mostrar superior aos alunos, como sendo o único que pode ensinar algo, o docente tem que estar aberto aos questionamentos dos alunos e tem que estar disposto a aprender, ele deve aproveitar os conhecimentos que os alunos possuem, que adquiriram nas suas vidas em comunidade, para relacionar os conteúdos à realidade dos alunos; outro apontamento do autor é que o professor deve ter consciência do inacabado, todos nos estamos em constante formação, sempre podemos aprender algo novo e deixar de cometer os mesmos erros.
Paulo Freire também cita questões que, na situação em que se encontra a educação brasileira, ficam difíceis de serem postos em prática como a pesquisa, atualização dos conhecimentos do docente, o estado não proporciona condições para que os professores estejam sempre se aprimorando, buscando novos conhecimentos e por isso a perca é coletiva, perde o professor, os alunos a escola, toda a sociedade. Outro ponto importantíssimo que Freire fala é que o professor deve gostar do que faz, gostar dos alunos, mas como o professor pode se sentir bem na sua profissão se ela não possui condições boas para produzir? O salário é um desrespeito ao profissional, a estrutura das escolas públicas muitas vezes são decadentes, a carga horária do professor geralmente é extensa, o que dificulta que o professor conheça seus alunos e entenda as causas das dificuldades delas.
A obra freiriana nos transmite otimismo frente ao desafio que é a educação, ele nos dá dicas de como podemos agir para melhorar esse quadro apesar da importância das idéias de Freire algumas serão difíceis de serem postas em prática.

OS DESAFIOS DO ENSINO DE FILOSOFIA NA CONTEMPORANEIDADE


A lei que obriga o ensino de filosofia no ensino médio nos impulsiona a tentar responder certas questões, tais como o porque da presença da filosofia nos currículos, como deve ser a filosofia nesse nível da educação, qual o modelo mais adequado para o ensino dessa disciplina, qual o papel da filosofia na educação na atualidade, e como o professor deve trabalhar.
O ensino médio objetiva uma formação abrangente do aluno, apesar de optar Por essa abrangência ela acaba se resumindo em um ensino conteudista da ciência e despreza as potências da arte e da filosofia. Afirma Gallo (2007 p 21):
Penso que esta seja uma justificativa pertinente para a presença da filosofia nos currículos da educação média: a busca de um equilíbrio entre as potências da arte, da ciência, da filosofia, de modo que os jovens possam ter acesso a essas várias possibilidades de exercício do pensamento criativo, aprendendo a pensar por funções (ciência), mas também por perceptos e afectos (arte) e por conceitos (filosofia).
Pode-se ainda justificar a presença da filosofia no ensino médio pelo fato dela ser de interesse geral e também essencialmente política. A filosofia adota como objeto de estudo os problemas que afetam a existência de todos os homens, os fatores que ameaçam a vida coletiva. Martins observa (2000 p 106):
Se é no ensino médio que se pretende dar ao educando a formação capaz de desenvolver todas as suas potencialidades, tornando-o apto para enfrentar os desafios que a vida lhe impõe, a filosofia deve ter espaço garantido na grade curricular. Caso contrario a mentalidade desse educando estará limitada pelo imediatismo e particularidade cientificas, tornando-o um ser facilmente manipulável porque carente da visão das relações que se travam na totalidade histórico-social.
A filosofia é uma prática revolucionaria e isso ficou evidente por sua exclusão por parte dos militares, ela precisa de democracia para existir, ela é uma ferramenta crítica , transformadora, ligada a vivência da democracia.
A filosofia que deve ser proposta no ensino médio deve antes de tudo estar atenta sobre as condições sociais e educacionais dos alunos, suas deficiências educativas, etc; os professores devem pensar novas formas de mediações entre a realidade cultural dos alunos e o saber escolar. A filosofia ensinada na educação média deve fugir do mero conteudismo, não se deve resumir o ensino de filosofia a transmissão de conteúdos historicamente produzidos e deve fugir também de tornar o ensino de filosofia um meio de produzir competências e habilidades.
Ao ensinar filosofia tomando como objetivo central o desenvolvimento de certas competências e habilidades especificas, como de leitura de textos..., corremos o risco de “desfilosofizar” (com o perdão do neologismo) a aula de filosofia pela perda do conteúdo especifico. Por outro lado ao ensinar filosofia tomando como objetivo apenas a historia da filosofia, corremos o mesmo risco, mas agora por, centrados no conteúdo perdemos o desenvolvimento da “consciência” filosófica pela pratica do pensamento. GALLO (2007 P 17).
Existem muitas formas que moldam a prática dos professores de filosofia no ensino médio no Brasil. Para Gallo (2007) “... a filosofia como uma atividade de criação de conceitos adquiri um caráter prático, investigativo, dinâmico, sem, no entanto cair no senso comum e no “opinionismo” , sem perder a dimensão estritamente filosófica do conceito.” Uma aula a partir desse paradigma divide-se nas seguintes etapas: sensibilização, onde apresenta-se o tema, que pode ser demonstrada a partir de uma música, um filme etc; segunda etapa é a problematização, ou seja, tornar esse tema um problema e os alunos junto com o professor vão atrás da solução, aqui se estimula o sentido crítico; próxima etapa é a investigação, é a busca de responder o problema proposto anteriormente, nessa etapa podemos recorrer para a historia da filosofia; a ultima etapa é a conceituação, nessa etapa a proposta é recriar os conceitos encontrados. Um problema filosófico pode ser introduzido entre os estudantes nessas quatro etapas, através da experiência do pensamento. Sobretudo a filosofia deve ser oferecida no ensino médio como um saber vinculado à realidade, não como uma mera abstração teórica impossível de ser posta em prática.
A filosofia e a educação estão entrelaçadas, a filosofia orienta e fundamenta a educação. “Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento do jovem..., a filosofia é a reflexão sobre o que é e como deve ser ou desenvolver este jovem e esta sociedade”. LUCKESI (19994 p 32). Penso ser este o papel da filosofia na atualidade: contribuir para que se mantenha sempre aberto e presente a pergunta pelo sentido de como vivemos e do que fazemos, por que temos a sociedade que temos? “O sentido da filosofia é abrir nosso pensamento a essas interrogações e a nova forma de compreender essas perguntas, colocando a demissão do sentido em nossa experiência do mundo”. GALLO, KOHAN (2000 p 189). É importante que os jovens entrem em contato com a filosofia e assim possam desenvolver a pratica de pensar criticamente.
Quanto à postura do professor como concebê-la? “Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a pratica. É pensando criticamente a prática de hoje e de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. FREIRE (1996 p 42). Penso que desse modo freiriano podemos resolver essa questão, ou seja, o professor deve refletir sobre os métodos que ele esta utilizando, se realmente são eficazes. O professor deve ser mediador entre os conhecimentos filosóficos e os alunos, tendo em vista as dificuldades destes.
A filosofia enfrentaria uma nova realidade estabelecida por causa da ampliação quantitativa do ensino médio. Com a enorme deficiência educativa dos novos discentes, eles sentiriam maior dificuldade em compreender a filosofia, aumentando assim a importância o professor, que deve produzir mediações pedagógicas capazes de reduzir essa distancia. Tal mediação se processará por meio do discurso didático, que é uma reformulação do discurso filosófico, e também por meio de síntese, esquematização, e simplificação de conteúdos e de linguagem, a tarefa do professor é ser o intermediário entre a filosofia e o aluno, o professor promove a transição para a construção da capacidade do aluno de pensar por conta própria, ensino voltado para a autonomia intelectual. RODRIGO (2007 p 42).
No ensino médio seria provavelmente a única oportunidade dos alunos de estudarem filosofia, não apenas ela, mas também os outros tipos de potência. O ensino de filosofia é um exercício de acesso a questões fundamentais para a existência humana, importa mais o processo criativo, a experimentação, a reflexão do que a solução do problema.


Referências bibliográficas:
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: paz e terra. 1996.
GALLO, S, KOHAN,W.O. Filosofia no ensino médio. 3 ed. Petrópolis: vozes, 2000.
LUCKESI, C.C. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1994.
SILVEIRA, R, J,T; GOTO, R. Filosofia no ensino médio: temas, problemas e propostas. São Paulo: Loyola, 2007.

A idéia platônica


Platão procura a verdadeira causa das coisas, o motivo do vir-a-ser e do perecer, questiona qual é a melhor forma de se conhecer as coisas, através dos sentidos ou através da razão, procura saber não “o que é”, mas “por que é”, e ele nos mostra onde encontrar essa causa e também nos fala de sua perfeição e imutabilidade.
Platão demonstra, nas palavras do personagem Sócrates, buscar descobrir a causa do vir-a-ser e do perecer das coisas, de início ele a procura investigando na natureza, era comum antes de Sócrates os filósofos tentarem explicar os fenômenos a partir das causas físicas e mecânicas, mas Platão vai questionar se realmente as causas de caráter físico representam as verdadeiras causas, pois para ele há causas mais elevadas, ele apresentou outra maneira de pensar e perceber o mundo, ele descobre uma realidade causal supra-sensível, ou seja, não material.
O filosofo grego usa o exemplo do sábio, que explica que algo é belo de acordo com o seu volume, cor e brilho, ou seja, através das aparências, que causam neles sensações prazerosas e agradáveis para os sentidos, já o filósofo afirma que tudo isso seriam apenas qualidades que nos trás lembranças de algo ainda mais belo, visto pela alma, mas que não está acessível ao plano físico, o objeto é apenas uma cópia imperfeita, de uma idéia ou forma pura do belo em si. “É a beleza a causa de ser belo tudo quanto é belo (...) E pela grandeza as coisas grandes são grandes; as maiores, maiores; pela pequenez, as menores são menores”.PLATÃO (2007 p. 190 e 191).
A idéia platônica possui uma realidade própria em si mesmo, é eterna e imutável, ela existe antes mesmo de ser pensada por uma mente, é o modelo único e perfeito de tudo em que no mundo é múltiplo e imperfeito. Para ele o conhecimento não nasce nas experiências sensíveis; Platão explica através da sua teoria do inatismo que a alma conhece as coisas quando recupera a lembrança adormecida, diz que o conhecimento é uma recordação, nós adquirimos conhecimento antes de nascer, mas o perdemos com o nascimento. Ele afirma que o vinculo com o corpo nos impede de buscar a verdade; os instintos, emoções, doenças constituem obstáculos à realidade. Para Platão não há outra causa das coisas serem o que são que não seja participando da essência própria de cada realidade.

Referência Bibliográfica
PLATÃO. Fédon. São Paulo: Martin Claret Ltda, 2007.
REALE, G; ANTISERI, D. História da Filosofia, vol. I. Paulus, São Paulo, 1990.

O PRÍNCIPE



MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe, Coleção Mestres Pensadores. São Paulo: Escala, 1996.
A obra é dividida em XXVI capítulos onde Maquiavel explica de quantas espécies são os principados (hereditário, misto, civil, eclesiástico); como se deve medir as forças de todos os principados; dos gêneros de milícia (próprias, mercenárias e auxiliares); dos deveres dos príncipes (se é melhor ser amado ou temido) e o que deve fazer para ser estimado; nos capítulos finais ele expõem seu nacionalismo, como no capítulo XXIV Por que os príncipes da Itália perdem seus Estados, e o capítulo final, Exortação ao príncipe para livrar a Itália das mãos dos bárbaros.
Maquiavel inicia oferecendo a obra para Lorenzo de Médici II, o mais jovem, de forma a estimulá-lo a realizar a empreitada de unificar a Itália e defendê-la contra os estrangeiros. Nas primeiras partes ele esclarece sobre quantas espécies são os principados, cita exemplos: os hereditários, (pelo sangue), onde há pouca dificuldade para mantê-lo, Maquiavel aconselha que se deve apenas seguir o que o antecessor fazia e adequar-se apenas as particularidades de sua época; principados novos (adquiridos com tropas ) é onde a dificuldade consiste pois pode haver disparidade de costumes, para manter-se no poder Maquiavel aconselha que o príncipe faça extinguir o sangue dos antigos príncipes e que não altere as leis e nem os impostos. “O desejo de conquistar é coisa verdadeiramente natural e ordinária e os homens que podem fazê-lo seram sempre louvados e não censurados. Mas se não podem e querem fazê-lo, de qualquer modo, é que estão em erro, e são merecedores de censura”. MAQUIAVEL (1996 p. 32); Dos que conseguiram o principado pelo crime, o autor explica que o príncipe terá sempre necessidade de estar com a faca nas mãos e nunca poderá acreditar em seus súditos, pois eles também não lho acreditam; principado civil, quando se chega ao poder pelo favor do povo ou pelo favor dos poderosos; os principados eclesiásticos, esses são seguros e felizes, sustentados pela rotina da religião, eles vivem e procedem como bem entendem. Maquiavel também discute em sua obra sobre os tipos de milícias, que podem ser próprias, quando é formada por súditos fieis; mercenárias e auxiliares que são inúteis e perigosas, não são unidas ao príncipe, são ambiciosas, o autor põem nelas a culpa ra ruína da Itália, afirma Maquiavel (1996 p.66) ”Aquele que, num principado, não conhece os males na sua origem não é verdadeiramente sábio”. Também há dedicado na obra uma parte que fala como o príncipe deve se comportar, deve ter como prática a guerra, deve gastar pouco para não ter que roubar os súditos para não se empobrecer, cobrando assim altos impostos e tornando-se odiado e desprazível, entre ser amado e temido deve escolher os dois, mas se tiver que falhar entre elas deve escolher ser temido, mas nunca odiado, é necessário que o príncipe empregue convenientemente o animal (força) e o homem (lei). “Assim, é necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade”. MAQUIAVEL (1996 p. 69). Na parte final de O Príncipe o autor evidencia o seu nacionalismo, ele explica por que os príncipes italianos perdem seus Estados, por culpa da própria ignorância deles, por não imaginarem nas boas épocas que os tempos poderiam mudar, e quando houve essas mudanças negativas eles só pensaram em fugir e não em se defenderem. Maquiavel afirma que só se conhece o valor de um príncipe quando seu povo necessita dele, então querendo conhecer o valor de um príncipe italiano, seria necessário que a Itália chegasse ao ponto que estava naquela época.
Quando se analisa a obra O Príncipe fora de seu contexto ela é mal interpretada, pois a obra relaciona-se diretamente com o tempo em que foi produzida, Maquiavel a partir de sua experiências e observações sobre o Estado constrói sua obra. Ele escreve sobre o Estado e o governo como realmente são e não como deveriam ser. Observando o funcionamento dos Estados ao longo da história ou até mesmo o que lhe rodeava, ele apenas descreve-os e não inventou essas histórias políticas. Há escritores que dizem que em O Príncipe, Maquiavel tenta alertar o povo sobre os perigos da tirania, há também quem diga que O Príncipe é uma sátira dos costumes dos governantes, já que Maquiavel tinha preferência pela república como forma de governo. Ele acha inútil imaginar Estados utópicos já que não são postos em prática e prefere pensar no real.
O italiano Nicolau Maquiavel nasceu em Florença no dia 3 de maio de 1469, foi historiador, poeta, diplomata e músico, é reconhecido como o fundador do pensamento e da ciência da política moderna pelo simples fato de descrever sobre o Estado e o governo como realmente são. Viveu na sua juventude o desenvolvimento da política de Florença durante o governo de Lorenzo de Médici e entrou para política com 29 anos de idade, trabalhando nesse meio Maquiavel pôde observar o comportamento de grandes nomes da época e daí pode inseri-los na obra. Durante o Renascimento a península itálica estava dividida em cinco potências, sendo que a maior parte delas era ilegítima, tomada por mercenários, esses Estados lutavam entre si e ficavam cada vez mais fracos e propícios aos ataques estrangeiros. A família de Maquiavel era toscana, Antiga e empobrecida. Comparada com a de outros humanistas sua educação foi fraca por falta de recursos da família. Em 7 de novembro de 1512 Maquiavel foi demitido acusado de ser um dos responsáveis por uma política anti-Médici, foi multado e proibido de sair da Toscana durante um ano, também foi preso e torturado, por terem suspeitado que ele fazia parte de um movimento republicano. Depois da morte de Júlio II todos os suspeitos de conspiração foram anistiados e com eles Maquiavel, depois de passar 22 dias na prisão, liberto ele se autobaniu e nesse período, que durou até sua morte, ele escreveu suas obras. Em 21 de junho de 1527 em Florença ele ficou doente, sentindo dores intestinais e morreu obscuramente.
Suas obras são:
O Príncipe (1513), Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio (1512-1517), Asino d'oro (1517), A Mandrágora (1518), Novella di Belfagor (romance, 1515), Dialogo intorno alla nostra lingua (1514), Andria (1517), Discorso sopra il riformare lo stato di Firenze (1520), Sommario delle cose della citta di Lucca (1520), Discorso delle cose florentine dopo la morte di Lorenzo (1520), Clizia, comédia em prosa (1525), Frammenti storici (1525) e outros poemas como Sonetti, Canzoni, Ottave, e Canti carnascialeschi.

Resenha da obra A Revolução dos Bichos



ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. Tradução Fernando Aquino Ferreira. São Paulo: Globo, 2000. 118 p.
A obra é dividida em dez capítulos, na primeira parte são apresentados os personagens, o major, um velho porco reúne todos eles para tentar mostrar para os bichos o quanto eles são explorados e mal tratados pelo dono, na segunda parte ocorre a morte do velho major e é instituído o Animalismo, liderado pelos porcos inspirados pelas palavras libertárias do velho Major, e os bichos conseguem expulsar o dono da granja, na terceira parte os dois porcos líderes, Bola-de-neve e Napoleão coordenam a colheita de feno, Bola-de-neve tenta ensinar os bichos a ler e escrever, na quarta parte houve a batalha do estábulo, onde o dono e seus homens tentam recuperar a granja, mas os animais vencem, na quinta parte mostra a discordância dos porcos líderes, Napoleão expulsa Bola-de-neve, na sexta parte os bichos trabalhavam mais e tinham menos comida, na sétima parte houve uma noite de assassinatos na frente de todos os bichos, alguns animais são executados sob a acusação de serem espiões de Bola-de-neve, o que não era verdade, na oitava parte a granja dos bichos sofre outro ataque, muitos animais morreram e quase todos ficaram feridos, mas conseguiram expulsar os humanos, na nona parte a granja foi proclamada república e Napoleão o presidente, na décima e última parte ficava evidente que não havia igualdade entre os bichos, os porcos tinham todos os privilégios e cada vez mais se assemelhavam aos humanos.
Todos os bichos ouviram falar de um sonho que o Major teve, ele reuniu todos os bichos: os cachorros, os porcos, as galinhas, os pombos, as ovelhas, as vacas, os dois cavalos, que não tinham muita inteligência, mas tinha retidão de caráter, a cabra, o burro, a gata, todos os animais estavam presentes. Antes de contar o sonho ele tenta abrir os olhos dos animais para mostrar a exploração e a péssima condição de vida deles, ele propõe que os bichos se livrem do homem para que o fruto do trabalho seja só deles.
Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo de alimento necessário para continuar respirando, e os que podem trabalhar são exigidos até a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade. Nenhum animal, na Inglaterra sabe o que é felicidade ou lazer. A vida do animal é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade nua e crua. ORWELL (2000, p.8)
Finalmente o Major conta o sonho, era um sonho de como seria o mundo quando o homem desaparecesse. O velho porco morre, daí por diante houve intensa atividade secreta as palavras dele tinha dado uma direção para a vida dos bichos. Os animais mais inteligentes, que eram os porcos, organizaram os seus ensinamentos em um sistema de pensamento chamado Animalismo, os líderes eram: Napoleão, pouco falante, mas muito determinado; Bola-de-neve, mais ativo e com muita imaginação e Garganta, era um mensageiro muito persuasivo. Os dois discípulos mais fies eram os cavalos Sansão e Quitéria, não pensavam por si próprio, aceitavam os porcos como instrutores e passavam a mensagem adiante por simples repetição. Os animais estavam famintos e revoltados, foi ai que a rebelião ocorreu, Jones, o dono, foi expulso com os seus peões pelos animais. Os bichos entraram na casa grande, observaram todo o luxo e decidiram que nenhum animal poderia morar lá. Os porcos que haviam aprendido a ler e escreve resumiram os princípios do Animalismo em sete: qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo; o que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo; nenhum animal usará roupa; nenhum animal dormirá em cama; nenhum animal beberá álcool; nenhum animal matará outro animal; todos os animais são iguais. Os animais estavam felizes, cada qual trabalhava de acordo com sua capacidade, todo domingo tinha uma assembléia, era sempre os porcos que propunham uma resolução, Bola-de-neve ensina os adultos a ler e escrever, mas nem todos aprendem, Napoleão dizia que a educação dos jovens era mais importante, ele arranca os filhotes dos cachorros e diz que vai se responsabilizar pela educação deles. Os donos das granjas vizinhas estavam com medo de que seus animais também se voltassem contra os seus donos. O sr. Jones, que era o dono da granja, tenta retomar o terreno, mas os bichos conseguem expulsar ele mais uma vez. O tempo piorou, a terra estava ruim, Napoleão e Bola-de-neve não concordavam em nada, Bola-de-neve queria construir um moinho de vento para terem eletricidade, mas Napoleão não achava uma boa idéia, os bichos ouviram um latido terrível, eram cachorros ferozes que Napoleão havia educado, eles foram pra cima de Bola-de-neve e ele nunca mais foi visto. Napoleão com essa guarda canina anuncia para os bichos que as reuniões foram canceladas e que agora só os porcos decidiriam tudo, os bichos ficaram espantados, outros tentaram protestar, mas não conseguiam organizar as idéias. Garganta era mandado para explicar, e usava sempre o mesmo argumento, que se eles não aceitassem o sr. Jones poderia voltar e seria muito pior. Os bichos trabalhavam feito escravos, Napoleão avisa que ele passará a comercializar com os humanos, novamente os animais sentem uma inquietação, uns tentaram questionar, mas logo foram contidos pelo rosnar terrível dos cachorros. Os porcos possuíam vários privilégios, passaram a morar na casa grande, acordavam uma hora mais tarde que os outros animais. Para uma reunião todos os bichos foram chamados, era para ver a execução de vários animais acusados de serem espiões de Bola-de-neve, o que não era verdade. Não era isso que os animais imaginaram no dia do discurso do velho major, eles imaginaram uma sociedade de animais livres da fome do chicote, todos iguais, mas eles viviam em uma época em que ninguém poderia dizer o que pensavam. A granja foi atacada novamente, muitos bichos morreram, mas conseguiram vencer, os porcos comemoraram bebendo uísque na casa grande. A granja torna-se republica e Napoleão o presidente. Passaram-se anos, vários bichos morreram, haviam nascido outros, a rebelião tinha sido esquecida. Os porcos passaram a andar sobre duas patas, e agora só havia um mandamento: todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais que os outros. Os vizinhos foram chamados para jantar com os porcos, os animais presenciaram tudo, olhando pela janela. “As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco”. ORWELL, 2000, P.118.
Depois de terem se livrado do carrasco, o terrível Sr. Jones, os animais da granja criaram suas próprias leis e imaginaram um mundo utópico de liberdade e plenitude, teria dado tudo certo se cada indivíduo se unisse a todos e ninguém se unisse em particular, os animais continuariam livres, uma vez que todos tinham direitos iguais, mas os porcos que coordenavam o grupo formaram uma cruel elite e como dizia Rousseau: “o poder os corrompeu” e os animais se viram novamente sendo explorados. É válido também observar que fazendo uso de uma educação distorcida Napoleão tenta manter seu poder a salvo; outro detalhe bastante importante mostrado pelo autor é a incapacidade que a maioria dos animais tinham de pensar por si só, eles preferiam apenas aceitar o que os porcos decidissem, o que nos leva a Kant, que diria que eles se encontram na menoridade:
Menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servi-se se si mesmo sem a direção de outrem. KANT. Resposta à pergunta: Que é o Esclarecimento? (1783, p.516).
Com a leitura dessa obra, é impossível não se lembrar do movimento revolucionário ocorrido na Rússia czarista em 1917. A revolução é deturpada como em A revolução dos bichos e os líderes subseqüentes a Lênin _ Trotski e Stálin _ possuem divergências ideológicas. Stálin “despacha” o seu “camarada” e passa a administrar autoritariamente a União Soviética de então. Note a semelhança dos fatos coma saga retratada no livro. O caso do regime stalinista russo, certamente inspirou a obra de Orwell.
Eric Arthur Blair nasceu na Índia em
25 de junho de 1903 , foi um jornalista, ensaísta e romancista britânico, que escreveu sob o pseudônimo George Orwell. Sua escrita é marcada por descrições concisas de eventos e condições sociais e o desprezo por todos os tipos de autoridade. Foi agente de polícia no oriente, decidiu então deixar o seu emprego por se sentir mal ao estar oprimindo um povo estrangeiro, desenvolveu então um ódio contra o imperialismo, regressou ao Reino Unido, onde sua vida tomou um rumo incerto. Juntou-se à luta no POUM (Partido Operário de Unificação Marxista), uma milícia de tendência trotskista contra Francisco Franco e seus aliados Mussolini e Hitler, na Guerra Civil Espanhola. Foi ferido no pescoço. Uma bala danificou-lhe as cordas vocais, saindo pelas costas, e desde então sua voz ficou ligeiramente alterada. Mais tarde escreveria o livro Lutando na Espanha, em que relata sua experiência no conflito. Orwell morreu em Londres vítima de tuberculose, aos 46 anos de idade em 21 de janeiro de 1950. Romances: 1934 -Dias na Birmânia; 1935 -A Filha do Reverendo; 1936 -Mantenha o Sistema; 1939 -Um Pouco de Ar, Por Favor!; 1945 -A Revolução dos Bichos entre outros.

A ATUALIDADE DO MITO DA CAVERNA




Mesmo tendo sido escrito antes de Cristo o mito da caverna (Platão) se relaciona perfeitamente com nossa atual realidade, onde os jovens vivem na realidade confortável passada pelas imagens da televisão, aumentando a alienação, o conformismo e o consumismo, produzindo seguidores do que a mídia determina.
A televisão tem a tendência de tirar o telespectador de seu meio real e o leva para outra realidade, onde se produzem regras para todos, impondo conceitos de belo, de feio, de bom, de ruim, a maioria das pessoas que assistem adotam esses conceitos como verdadeiros, não param para observar o que realmente há em volta deles, não abrem os olhos para contempla a vida.
O consumismo exagerado é outro problema da juventude, veiculado pela mídia que manipula os desejos. A publicidade tem a juventude como foco principal, e eles vêem o consumismo como o verdadeiro sentido da vida e quando eles não possuem mais dinheiro não podem ser felizes, não podem se realizar como pessoa. Há nesse momento uma renúncia da própria liberdade para se tornarem o que a propaganda impôs.
Eles simplesmente se acomodaram a viverem acorrentados, ficam na frente da televisão deixando que implantem idéias nas suas cabeças. As imagens na caverna já se tornaram reais para a maioria deles. Estão passivos diante de tanta corrupção, miséria e outros absurdos, quando podem contestar, indagar, opinar ou ao menos se espantar, mas quase nada fazem. A maioria dos jovens não se opõe a nada do que já está estabelecido. Devem se libertar e serem eles mesmos, ter desejos próprios. Assim eles veriam coisas novas, sentiriam novas sensações, e seria também desagradável, pois veriam que tudo que eles viveram até agora não era nada, era irreal e veriam que não sabem de nada.

"Filosofia... qual sua utilidade?!#"




Entrando no curso de filosofia, logo na primeira aula, que era de lógica, já quase no final da aula, um dos colegas pergunta ao professor: -o que é a filosofia?? Esperava que na primeira aula fosse a primeira coisa explicada!! -ele disse.
Em cada livro de introdução à filosofia encontramos um conceito diferente e isso é bom porque assim ampliamos o que já temos estabelecido. A explicação mais comum é dada a partir da sua etimologia, como explica Marilena Chauí em Convite à Filosofia (2000):

A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio.Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras (que viveu no século V antes de Cristo) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.


Algumas pessoas demonstram ter preconceito, acham a filosofia inútil, mas o que é a inutilidade??? É preciso filosofar até nesse momento... dizem ainda que “a filosofia é uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual” (rsrs... Aff). Na contemporaneidade exige-se exatidão e como a filosofia não dá essa exatidão imediata ela é marginalizada, não lembramos que as ciências surgiram a partir de um questionamento:

O saber é filosófico enquanto não almeja ás certezas definitivas sobre a realidade, mas quando isso acontece surge as ciências... Todo o estudo dos corpos celestes, que hoje pertence a astronomia, se incluía outrora na filosofia. De maneira semelhante, o estudo da mente humana era uma parte da filosofia e tornou-se ciência da psicologia. RUSSELL, Bertrand.Os Problemas da Filosofia (1912).


Então nosso professor respondeu: - Não quero limitar a filosofia a um conceito, ainda hoje estou buscando essa explicação, se eu dou um conceito para vocês vou privar vocês da procura por essa explicação por que vocês vão achar que já sabem, e como dizia Kant: “Não se aprende filosofia, mas a filosofar”.
Sem o espanto e a reflexão constante sobre a realidade e sobre o que já está estabelecido seria a destruição do homem ou pelo menos a redução dele a condição de objeto.

-Qual seria então a utilidade da Filosofia?

Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil;se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil;se buscar compreender a significação do mundo,da cultura,da história for útil;se conhecer o sentido das criações humanas nas artes,nas ciências e na política for útil;se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil,então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.(Marilena Chauí)